A vida dos meus, dos seus, dos (não) nossos planos

Rio de Janeiro, 30 de Abril de 2014.

Querida Nátali,

Não temos casa, nem ao menos uma kitnet, não temos grana pra isso, não somos como muitos por aí, começam suas vidas com apenas um colchão surrado de tão velho para ser dividido à dois corpos que se encontram, não temos uma pequena TV antiga, mais submersa aos fantasmas, as margens do chiado do que à cores. Você não tem a necessidade de me mandar subir no telhado para mexer na antena e alocar uma palha de aço em suas pontas para testar se a qualidade de imagem melhora. Você não tem a necessidade de gritar: " _Mozinho! Assim está bom" e no mesmo instante, estar presa numa emboscada, com os pés na beirada da laje ao tal ponto de cair e sofrer um louco acidente. Seria por amor o tamanho acidente.

Nós não temos gás para prepararmos a comida, não temos telefone residencial para ligamos para um pequeno restaurante e pedir para entregarem o almoço, a janta que dividiremos e comeremos no mesma vasilha em que nos foi entregue, pois temos preguiça de pegar pratos, garfos e facas na cozinha de uma casa ou kitnet que ainda não temos.

Não temos banheiro para dividirmos o espelho enquanto brincamos de escovar os dentes e molharmos uma a outra

Não temos toalhas, não temos termômetros, não temos roupas secas e tampouco remédios para nos curar da gripe imaginária.

Não temos cobertores para nos acolher e fazermos "cabaninha", com lanternas acesas em nossos rostos para a nossas bocas se tocarem. Os nossos corpos se abraçarem, na nossa pele arrepiar-se.

Não temos dinheiro pra nada, não temos condições, eu sou uma simples estagiária administrativa que ganha um salário mínimo e mora na casa da tia com o seu primo. Eu sou uma simples pessoa que está a conquistar um pequeno espaço agora e que pretende crescer a cada instante para tirar dos papéis os esboços de pequenos valiosos planos.

Para ver a realização, para acordar com os seus beijos em minha nuca e suas mãos à apertar a minha cintura (quando dormimos de conchinha), para ouvir um "Eu te amo" distante, pois ainda estou despertando para um novo dia cheio de encantos e desencantos.

Para sermos um processo lento, porém cauteloso do início da prosperidade e felicidade em nosso doce lar.

Com amor,

Inerme - São sete meses, mas parecem sete anos.

Pâmela Simões
Enviado por Pâmela Simões em 30/04/2014
Reeditado em 02/05/2014
Código do texto: T4789226
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