À uma outra solidão:
 
Lembro-me como se fosse hoje...
De repente tu invadiste a MINHA solidão.
Aquela solidão serena, silenciosa, resignada. Cheia de cicatrizes, marcas de tantas dores curadas. Uma solidão que nada esperava, apenas caminhava no vão dos dias.
Então chegas tu, solidão estrangeira, trazendo na mala incertezas, frustrações, medos, dores e descrença, para bagunçar a minha solidão. Exibindo na bela face ares de carência, rabiscando versos tristes, tal qual Orfeu abandonado.
Sem cerimônia, abre as janelas, acende o sol, sopra esperança, sacode a poeira, limpa as teias, desenferruja emoções, entoa canções, bafeja poesia e desperta o amor.
Torna os dias quentes e as noites enluaradas.
Desengaveta sonhos, colore os caminhos, revolve a terra, floresce o jardim.
Tu, senhora solidão, abraçaste a minha solidão; beijaste os lábios, incitaste desejos...
Enlaçaste as mãos, afagaste o peito, enxugaste as lágrimas e juntas, brindaram a felicidade.
Mas tu, solidão, parece-me que não nasceste para se misturar. Tens a essência volúvel. Gostas de seduzir e encantar solidões alheias, mas sem compromisso de compartilhar companhia.
E assim, abandonaste minha solidão. Levaste o que de melhor havia. Sim, pois há sempre algo de bom em uma solidão, que não se enganem os outros.
Deixaste tão somente tristeza, melancolia e uma dor latente.  
O que restou foi outro silêncio...
Imoral, impiedoso, frio, gritante.
Roubaste a minha solidão, fomentaste ilusões para depois abandoná-la à própria sorte. Sem chão, ela perdeu sua essência, transformando-se em outra solidão arredia e mesquinha.
Agora, já não há paz e sim o desespero nas noites sombrias, onde tudo o que abriga a alma despida é uma dolorosa saudade.
 
BETH LUCCHESI
Enviado por BETH LUCCHESI em 24/04/2014
Reeditado em 25/04/2014
Código do texto: T4781268
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