Carta número cinco - Histórias certas, títulos errados

3 meses e 27 dias.

As vezes tudo depende de um ponto. Nossa vida é como uma história na qual começamos sendo apresentados como personagens "principais" por um narrador, mesmo que não nos sentimos como principais e ele põe vírgulas e pontos aleatórios a cada meio e fim de período. Depois de um tempo a gente cresce e amadurece e torna a contar a história pelo nosso próprio ponto de vista e aí sim tudo o que acontecer a partir de então vai realmente depender da gente. Depende também do jeito que contamos. O dia pode ter sido um bagaço (horrível e rugoso), mas se escrevermos de uma forma engraçada com certa nostalgia, parece que nem tudo foi tão ruim assim.

A mesma coisa com os títulos. Li em um livro (sim, mais um!) que o menino principal da história se perguntava o que estava fazendo de errado sobre seu relacionamento. Ele estava fazendo tudo certo. Só que para a garota errada. E é mais ou menos assim que pensei sobre nossa história. Quero dizer. Não tem título, mas talvez eu esteja dando mais importância do que deveria. E talvez tudo o que eu ache que te descreva, na verdade, não faz sentido algum.

É confuso demais pra minha cabeça. Outro dia pensei que estava bem sobre o seu caso, que não tinha problemas em me lembrar de você e saber que nada de verdade aconteceu. Disseram que eu havia te apagado e que as lembranças que eu tinha eram só pequenas nostalgias que escapavam por uma brecha da "lixeira". Só que eu me lembrei das coisas que eu sonhei e pensei novamente em como desperdicei meu tempo pensando em um plano que desse certo e que nunca deu, porque eu não sabia fazer para que funcionasse.

Fico pensando também na questão da aparência. Dizem que além de um título chamativo, o livro tem de ter uma capa bonita para que as pessoas queiram ler. Não acho que livros que não sejam lindos me façam deixar de querer lê-los. É claro que cada um deve cuidar da aparência pelo menos para própria confiança, mas sinceramente acho que isso depende muito do ponto de vista. Você é maravilhoso, mas não bonito. As pessoas dizem que você não é atraente, mas que diferença isso faz? Se eu fosse cega, a aparência seria o menor dos meus problemas, e eu certamente iria aprender a gostar de alguém com o coração e não com os olhos. Não sou cega, mas não me importo muito se você tem aquela imagem hollywoodana que as pessoas esperam. Acho que o que me atrai a você é o sorriso, o olhar, a voz, a pinta no rosto, o perfume, aquelas poucas palavras ditas, os bocejos de sono, as respostas às perguntas mais aleatórias... Sabe, coisas pequenas. Os fofos e inteligentes são mais atraentes que os bonitos pra mim. E tenho certeza de que a sua história é maravilhosa.

Lembra daquela vez que disse que você seria um personagem principal de uma história minha? Acho que você já está sendo na verdade. Talvez não o principal exatamente, mas o personagem que veio e mudou tudo e depois foi embora. Mas que eu espero que volte. Algum dia. De qualquer forma, essa história aqui continua sendo escrita. Só que ainda não encontrei um título certo.

Talvez eu encontre. Ou não. Mas a história vai continuar sendo escrita, mesmo que você nunca mais apareça nela.

Bec
Enviado por Bec em 02/04/2014
Reeditado em 02/04/2014
Código do texto: T4753573
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.