O que me cabe transborda pelas frestas da minha solidão.

Quando abro a porta da casa sinto o calor do chão e o teu cheiro exalar fortemente como se a tua presença ainda fosse possível. A poeira ainda permanece. Lembra-se do quadro negro com os rabiscos de giz? Ainda está lá. Lembra-se da nossa fotografia? Ela completa uma década hoje! A tua cadeira está no mesmo lugar. Ali. Aqui. Arrasto a mesma com a tentativa de que você me ouça. Eu grito. Estremeço a casa e os teus retratos caem na mesma velocidade em que o meu corpo se cola ao chão. Os vidros quebram e eu tento recompor os mesmos com o tom que construo minha alma. Eu te procurei Maria. Te dei flores há quatro anos! Onde você está? Espero que nesse lugar não faça frio. Quer que eu leia uma história ou cante para ti? Você escolhe. Eu devo ter dito algo errado da última vez? Acho que não. Não imaginei que aquele seria o nosso último dia. Se eu imaginasse que crianças são tolas, eu desenharia teu rosto sereno e ficaria mais um pouco contigo. Maria, as pessoas daqui me assustam! Elas são frias e mentem. Por que você se foi, Maria? Espero que um dia eu possa te encontrar. O carteiro veio aqui hoje, sabia? Mas achei estranho, pois ele me entregou um envelope em branco. Abri o mesmo e o bilhete dizia: “Não chore Lara, ainda estou aqui.”

Eu te amo.

(18/10/2013)

Laryssa Andrade
Enviado por Laryssa Andrade em 02/04/2014
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