Isto não é uma carta de amor I
Querido Rê,
Estava deitada em minha cama, em meu quarto, tão frio, tão longe, tão fúnebre. E pensava, e lembrava. Pensava e lembrava você. E naquilo que compartilhamos. Assombrava-me pensar o tempo.
E se o Tempo resolver levar as lembranças? E se ele sabotar nossa memória e nós nos esquecermos de nós?
Ah, nossos caminhos... fadados a se encontrarem nesse meio de estrada. E se o Tempo esquecer de me lembrar os nossos dias? Eu jamais entenderia o vazio desta ausência tua.
Você, que é tão singular... Você que é tão... Você. Não permita que eu te esqueça. Marque os meus dias. Faça dos outonos primaveras inesquecíveis. Leve-me, se fores. E então poderei dizer o que esperas que eu diga.
Ah. Rê...
Não quero ser hiperbólica, mas já escrevi mil cartas. E escrevo esta para não esquecer de lembrar. Para esquecer de esquecer.
Sempre vossa,
Dama Coroada.