Carta número dois - Crescer é ir descobrindo quem você é

3 meses e 5 dias

Faz tempo que não escrevo pra você. Não sei se na outra carta eu mencionei que iria viajar. Viajei. Foi uma viagem longa e curta ao mesmo tempo. Atravessei o oceano em um avião e fui parar em uma terra desconhecida onde as pessoas não falam a minha língua e existe uma rainha. A cultura é muito diferente, mas mesmo assim, nesse pouco tempo que passei por lá, descobri que aprender coisas novas sempre te abre uma porta na vida, mesmo que atrás dessa porta nada pareça amigável de primeira.

Vamos dizer que quando estava no meu terceiro avião (tive que entrar em muitos) eu tentei olhar pela janela (é difícil quando se está sentado no meio do meio) e lembrei de você. Em um primeiro momento pensei em voltar, achei que tudo lá seria esquisito e complicado e que não teria graça alguma porque você estava a quilômetros de distância.

Eu estava enganada. Muito enganada.

Meu cérebro se ocupou com muitas outras coisas por lá e meu coração se abriu um pouco, não muito, porque ele ainda está fechado por sua causa, mas uma pequena frecha pra que a luz pudesse entrar. Essa luz iluminou algumas partes escuras que não me deixavam enxergar o mais importante. O amor é grande sim, mas não é tudo o que existe. Mesmo vindo de diferentes partes do mesmo país, lá várias meninas se tornaram amigas de verdade. A amizade é importante. Tem coisas que aprendi que se ficasse aqui só pensando em um plano pra te ver por um segundo nunca teria me passado pela cabeça.

Descobri que sou responsável. Não tanto quanto gostaria de ser, mas o bastante pra dizer que agora sei fazer muitas coisas por minha conta que antes eu não sabia. Precisava correr e estar atenta a tudo e a todos. Precisava curtir cada momento e acima de tudo precisava ao menos tentar perder a minha timidez. Eu tinha vergonha até pra pedir um sanduíche em uma lanchonete, e ontem, voltando pra casa, fiz meu pedido numa boa e ainda perguntei mais só pra ter certeza de que meu prato não viria errado (antes em muitas vezes que eu pedia algo, o prato vinha errado mas eu sempre deixava por isso mesmo). E foi aí que eu percebi que algumas coisas mudaram. Tímida eu ainda sou e demais e odeio ter de falar com as pessoas. Mas pelo menos já consigo ao menos entrar numa loja e conseguir um descontinho. E acredite, isso é como um passo de elefante pra mim.

Aos poucos estou descobrindo quem eu sou e quem eu quero ser. Ainda não sei plenamente. Por isso deduzi que crescer é ir descobrido quem você é. Porque mesmo no final das nossas vidas nunca sabemos totalmente quem somos, mas sabemos, por experiências, o que já fizemos o que gostamos de fazer e isso é descobrir um pedaço de si mesmo. Exatamente por esse motivo que existem meninas de catorze anos por exemplo que pensam como uma mulher de vinte e nove, e muitas mulheres de vinte e nove ainda tem mentalidade de uma catorze. A idade não define sua maturidade. Crescer na vida, é crescer dentro de você mesmo.

Você sabe que eu tenho dezesseis anos. Que idade será que eu teria pra você se lesse esse texto? Talvez para alguém que não saiba, e apenas leia minhas palavras, eu pareça bem mais velha. Porém, considerando que tem horas que sou bem infantil como uma criança de cinco, a idade nunca é completamente certa, nem pra mim, nem pra ninguém.

Sim, estou muito filosófica e cansada também. Não tenho forças pra ir a aula hoje, mas pelo menos consegui te escrever esse texto que ainda assim continua sendo pra mim mesma. Quero ser forte. Taí mais uma coisa que quei conquistar na vida. Força. Não somente física, mas psicológica também.

Ah, a propósito, o dia em que meu livro vai estar na livraria está próximo. Espero que você o veja lá, talvez quem sabe ainda em pouca quantidade e escondido. Mas se você tiver bons olhos saberá que de uma garota que banca a escritora de textos e histórias sem fim, crescerá uma escritora forte e com determinação.

Bec
Enviado por Bec em 11/03/2014
Código do texto: T4723990
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