Carta a Elisa Lucinda

Minha cara,

Há muito pensei escrever breves linhas a você. Estive em tua Casa Poema, deixei um bilhete e meus contatos. Não veio a resposta. Prefiro acreditar que não chegou em suas mãos.

Bom, a Poesia do Encontro encontrou a minha zanzando. Pobre de rimas talvez, não sei, mas profundas. Legítimas. Tudo de verdade e até de mentira. Enfim, desabrocharam Poemas de mim.

Musa Primeira, encontrei contigo e Rubem Alves no aeroporto do Rio de Janeiro e já conhecia um pouco do temperamento de Rubem por suas “Variações sobre o Prazer”. Você por Dra. Selma pelas Páginas da Vida. Naquela madrugada eu voltava pra cá com meu Companheiro Durvalzinho e um peso na alma, como sempre acontece quando parto do Rio. Sofro porque sinto que de uma Poesia me aparto.

Pelo livro, entre tantas lições, aprendi algumas: “sei que não vou por ai”; “a poesia veio num só mocó”; “não quero teu alpiste”; “viver de poesia”; encontro e reencontro com tantos poetas; “poema da geladeira”; “veneração pelo filho”; “amor pelo Pai e Mãe”; “gramática enquadrada na poesia” e tantas coisas. Ah, a saga do teu nome foi outra novela. Coisas de noras desobedientes. De sogras inconvenientes...

Te faço uma confissão: Escrita me dava medo. Muito medo de errar a gramática. Mas tô mandando por ai mesmo assim.

Bem, o Bilhete que deixei em tua casa dizia que Tu e Rubem Alves são meus padrinhos de Batismo na Poesia; Adélia Prado madrinha do Crisma! Com Adélia comecei a perder o medo de fazer psicanálise com minha escrita.

Enfim, confirmei minha vocação, mas falta luz pra profissão. Afinal não posso permitir que levem minhas geladeiras: Amarela e Vermelha...

De qualquer modo, já tenho boas notícias: Escrevi além da Poesia estrita, aumentei as páginas. Concorri num vestibular no Rio Grande do Sul e nada. Não é que tive direito a segunda opção?

Meu filho Conto, ANJO INVEJOSO: CONTRATAÇÃO ARBITRÁRIA desfilou na passarela do Recanto das Letras e um editor lhe convidou pra fazer parte de uma coletânea. Já é um bom começo, não achas madrinha? Mesmo assim, o aprendiz de escritor anda nervoso e inseguro no seu discurso poético.

Elisa, contigo me assumi Poeta. Preciso agora ter coragem pra virar atleta.

Mas olha, toda esta escrita de brincadeira é uma homenagem a você, Lua que menstrua, seduz com as palavras. Tenho mesmo vontade de falar uma Poesia em sua Casa para que assim me realize mais ainda como pessoa e quem sabe depois um vinho para ouvir a Senhora Rainha poetar a noite todinha.

Pra terminar acrescento: Gostei dos vestibulandos não terem sabido lhe interpretar naquele vestibular do Espírito Santo, a culpa foi deles não sua. Afinal a senhora escreve até Poesia por encomenda...

Tentei fazer o dever de casa.

A seguir ODE À MULHER NORDESTINA que fora criada para apresentar-se em Fortaleza em louvor às mulheres nordestinas e ainda INFINITIVOS DA POESIA.

São Luis do Maranhão, Ilha do Amor, 06/03/2014

Paulinho

ODE À MULHER NORDESTINA (CAJARIENSE)

No começo fora criada de um pedaço de costela

No descobrimento vivia já muito enfeitada:

Argolas pulseiras bugigangas e a parir costelas

Boas e podres gordas e magras.

Em casa: costura limpa cuida da prole mais que gigante

E do marido machista irritante

No trabalho pra fora de casa: quebra

côco, lava, passa, cozinha, é vereadora, advogada

Até governadora, mas também prostituta:

Despoja-se aos instintos sexuais porque naturais

Através dos quais procria e cria.

Inventa paciência para manter seu pudor

Tão despudorado pelos seus pares que pensam

serem eternos doadores de pedaços de costelas. Que horror!

É eleitora conquistadora e democraticamente

elegeu uma mulher presidente porque valente!

Nos palcos vira atriz cantora

Até nos Tribunais têm ministra e negra desembargadora.

No começo fora feita da costela de Adão, sei não!

Mas desde Porto Seguro buscara a Emancipação.

E são: Fortes Inteligentes Valentes Roceiras Policiais

Médicas Cantoras Promotoras Juízas Farmacêuticas Pintoras

Prefeitas, Escritoras e tantas outras doutoras:

Poetas: Costureiras: Varredoras de “dor” e também de rua

Empregadas e Empregadoras

Além de Inspiradoras de Jorge Amado

Que fez nascer Gabriela Cravo e Canela

De José de Alencar que fez por Iracema, a Virgem dos Lábios de Mel

Um certo Irapuã se apaixonar com amor a granel

Não sei do que foram feitas as mulheres nesta Terra de Noel

Eu sim, sou fruto de uma barriga que ficou barriguda

E como até a Cebola foi exaltada por Pablo Neruda...

E igual ao solo encantado ao receber a Neblina

Nada mais justo e poético que escrever uma

O

D

E

À

M

U

L

H

E

R

Nordestina

E não é que me surgiu uma Cajariense repentina?

De sobrenome Serra e nome Adilina

A devota que coroava Nossa Senhora Rainha...

INFINITIVOS DA POESIA

Creio que os autores divinos não morreram

E se morreram, reencarnaram em quem após, veio

A Obra é Grande

A Bíblia dividida. Somente

uma e outra metade

E uma ruma de doido brigando por sua verdade

Necessário emendá-La com Legitimidade

Eclesiastes contesta com Poesia a concepção de Apocalipse

“...Uma geração passa, outra vem, mas a terra sempre subsiste...

... Quanto ao maior número de palavras que estas,

fica sabendo que se podem multiplicar

os livros a não mais acabar...”

As Escrituras Sagradas são Leis do Mundo

E de emenda sofre nosso Direito barafundo

Duvidas? Desacreditas? Apostas?

La vai então a proposta:

Evangelho Segundo os Poetas:

São Durval Soares: um pássaro a cantar pelos ares

Um Rouxinol sempre a espargir melodias

Pai de plumagem brilhante. Um típico Faizão

Um Ser Poeta a trazer na alma um sacrário de ilusão

Meu caro Paulinho Pedra Azul, outro oconcur

Rubem Alves Drummond e Adélia Prado

A Poesia das Minas Gerais é de bom grado!

Cecilia e Clarice, ambas com transparência de meiguice

Helena Kolody e Cora Coralina, cada uma uma musa divina

Maria Betânia, Deusa com voz profética que não engana

Manoel Bandeira a se afogar no MAR

Manoel de Barros, com suas mentiras é um arraso

Fernanda Montenegro. É seu papel incorporar!

No palco ou na tv é magnifica pelo lampejo. Dá gosto ver

Ferreira Gullar e seu Deus Poeta. Quem será?

Fernando Pessoa Alberto Caeiro Álvaro de Campos Ricardo Reis

Que que há?

Conheci o Santo Português

Escrevo até chegar minha heterônima vez

Cazuza Vinicius e seu Tom

Chico Buarque e Olavo Bilac: cariocas

Tresloucados porque tem aptidão para ouvir estrelas

E ainda há quem blasfeme dizendo isso é besteira.

E de mim que conversa com os mortos

e ama outro homem de todo meu Coração,

o que dirão?

Os Livros Poéticos dão leveza e não

castigo fogo dureza

Quem disse?

Besta Fera?

Apocalipse?

Leia Segundo a Profetisa Elisa:

“- A poesia é síntese filosófica, fonte de sabedoria,

é bíblia, dos que, como eu, creem na eternidade do verbo,

na ressurreição da tarde e na vida bela. Amém.”

Então lá vai a sagrada recomendação:

ler mastigar engolir comer degustar deglutir introduzir refletir admirar

Escrever o que a alma irradia

Infinitivos do Infinito:

POESIA.

Portal da Lagoa, 22 de fevereiro de 2013 às 22:00H.

Dia em que esta Poesia foi gerada.

Ilha do Amor, 05 de fevereiro de 2014, às 12:00H.

Dia do seu nascimento. Momento em fora declamada.

Paulo Furtado
Enviado por Paulo Furtado em 06/03/2014
Reeditado em 06/08/2014
Código do texto: T4717921
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