Solidão

Ela estava só naquele quarto, mais uma vez confusa, novamente desiludida, será que nunca vai dar certo? Do amor até agora só obteve a dor, somente o descaso. Essa dor no peito, agora já não era uma dor emocional, e sim uma dor física, real, como se desse para toca-la, como se fosse ter um enfarte a qualquer momento, uma dor realmente preocupante.

Não chorava, pois já não havia mais lágrimas nem vontade de chorar, ela tinha se tornado devota dessa espécie de masoquismo, parecia gostar da dor sentimental, venerar seu próprio peito aberto, estraçalhado ao chão. Olhava de fora, e admirava essa imensa solidão, essa enorme falta de quem confiar; E em quem confiar? Se ninguém a entende, se já não tem mais carinho para dar, se não vão mais poder arrasar esse coração que esta caminho da UTI, talvez isso seja bom, essa dor, porque envelhecer sendo mais uma solitária, para que esperar pelo que nunca vem, quem sabe essa dor no peito esse cansaço e demais sintomas negativos não seja o que vai a livrar de um suicídio, talvez seja o passaporte que ela tanto esperava para poder partir, poder arrumar as malas entrar no caixão e nunca mais voltar.

A solidão que a abraça chega a ser confortável, as vezes ela pensa ser sua melhor amiga, a única que estará com ela por todo tempo. Era detestável lembrar de suas tentativas frustradas de ter alguém de se livrar dessa amiga fria que a envolve nesse abraço consumidor.

Tenta se distrair com músicas, mas já não aguenta mais escutar os sentimentos alheios, sentir toda a alegria na voz dos cantores. Ela só quer estar só, e se aceitar só, se livrar dos instintos humanos, aqueles que impedem que estes braços que a envolvem congelem seu sangue seu cérebro e anestesiem sua dor pontiaguda, física, desligue esse alerta de que algo está errado com esse corpo, e deixe a casa pegar fogo, que essas chamas de gelo finalmente libertem-na para que possa novamente se ver de fora sentar e assistir a seu enterro de camarote, pairar pela terra e acompanhar de cima aqueles que a presentearam com a ausência.

Ellena Fideles
Enviado por Ellena Fideles em 06/03/2014
Reeditado em 10/03/2014
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