Meu grito mudo
Aquele som que não foi ouvido,
Esse som que foi abafado pelos risos,
Foi meu grito mudo;
Aquele grito esquecido, aquela dor anestesiada,
Foi a tentativa alucinada de melhorar;
Queime por dentro agora,
Não se importe mais;
Descanse sossegada,
Não continuo vendo essa hipocrisia com a cara limpa.
Deixe os sonhos lavarem seus pecados,
E a noite apagar sua memória,
Deixe-me mais uma vez em minha cama,
E volte em paz para sua casa;
Não se importe em me procurar,
Nós sabemos que isso nunca foi necessário.
O que sobrou entre o pesar e o corroer?
Quem restou diante do sentir e o consentir?
Eu sobrei, restei e dissipei com o tempo.
Eu estava lá e vi tudo acontecer,
Eu que talvez já não me sinta tão eu como antes;
Eu que um dia estive tão dentro e marcada
E hoje já não sei mais onde estou.
Quantos anos levarão pra isso tudo deixar de ser?
Ódio, amargura, rancor;
Apatia, nostalgia, amor.
Talvez jamais deixem de ser hipérboles em suas essências,
Talvez, jamais deixem de ser apenas um eufemismo;
Mas nunca me pareceu menos coerente se importar,
E nunca me pareceu mais importante especular.
E já não restam sonhos,
Já não resta o que sonhar;
E não há memórias à destruir,
Ou pecados para abandonar;
Não há razão para você teimar em existir
Muito menos eu tentar te recordar.