Carta número um - a arte de escrever

2 meses e 17 dias

Querido, bem... Você sabe seu próprio nome.

A marca ali em cima não é data nem nada do tipo. É o tempo que estou sem você. 2 meses e 17 dias. E isso nem é uma carta propriamente dita. Não tem data, nem fechamento e nem assinatura. Não tem nada de formalidade. Só tem eu e minhas lembranças. De você.

Estou reinventando meu jeito de escrever cartas.

Hoje, quando entrei na padaria, um homem com sotaque de português de Portugal estava comprando algo. Me lembrei de você. Lembrei daquele dia que você disse que era péssimo em Língua Portuguesa e que talvez só por causa da redação você não passaria no vestibular. Você passou, não naquele em si, mas em outro que é bastante renomado também. Você continua sendo aquela pessoa mega inteligente que eu conheci, e que conquista tudo e todos ao redor.

Esses dias fiz provas de exatas e artes. Você era muito bom em exatas (talvez um dos melhores que eu já conheci) e eu sou toda artista. Uma combinação perfeita. Se você ainda estivesse aqui, talvez eu pediria pra você me ajudar com os números e eu com seus sentimentos e emoções. Porque é assim que artistas são: emotivos e expressivos.

Você sabia dessa minha mania de ser escritora. Quer dizer, se ter um livro e leitores é o que se diz ser escritora, então sim eu sou assim. Mas tem algo mais também. Gosto mais da sensação de saber que alguém em algum lugar do país está agora lendo um texto ou uma crônica minha e se reconhecendo no personagem ou até mesmo nas minhas palavras. Um escritor acima de tudo é amante das palavras, por mais que elas possam ser feias ou esquisitas. Porque aqui não há problemas com a aparência.

Escrever é uma arte. É uma coisa boa. E traz sensações inusitadas. Li em um livro que um bom exercício para escrever bem era escrever sobre a primeira coisa que lhe viesse a cabeça. No meu caso, veio você. Então em vez de escrever somente sobre você, decidi que escreveria pra você. Em outro livro descobri que escrever faz a gente se sente melhor, é uma forma de se expressar e dizer tudo aquilo que estava entalado na garganta que queria sair, mas de alguma forma não conseguia. Escrever é uma forma de se libertar. De se ver livre. Escrevendo posso viajar para onde quero, com quem eu quero e viver novas aventuras. O mundo é pequeno pra quem tem imaginação. Mas parece que o coração fica apertado pra quem sente saudade. E escrever também me traz saudade.

A arte de escrever é tão linda quanto a visual. Posso não gostar de poemas tanto quanto da minhas viagens em forma de prosa, mas ainda assim gosto de saber o que está escrito. Muitas vezes é cativante. E é assim que eu quero ser. Livre. Quero ser escritora. Quero fazer os outros sentirem algo ao lerem minhas histórias, minhas palavras.

Você não sabe de nada disso talvez. É provável que nem saiba das coisas que eu sentia quando estava perto. Mas quero dizer que você me deu uma chave valiosa que abriu uma porta pra mim. Você me inspira a escrever mesmo quando não tem nada a ver com você. E talvez um dia você veja meu livro na estante da entrada da livraria.

O tempo tá passando. Você está tão longe e ao mesmo tempo tão perto. Sei que algum dia a gente se veja de novo por aí. Mas até lá, eu não tenho ideia do que o futuro vai ter reservado pra mim.

Bec
Enviado por Bec em 23/02/2014
Reeditado em 11/03/2014
Código do texto: T4703496
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