Cidade dos Fortes, 19 de Fevereiro de 1992.
 
Amigo Julinho,
 
Como vai você, meu caro irmão? Eu estou muito bem, apesar da falta que sinto de você. Hoje pela manhã, minha mãe entrou no meu quarto como sempre, porém xingando por causa da bagunça que você mesmo conhece.
Ela começou a ficar brava, brava e brava... Parecia uma águia que colocou espinho no ninho dos filhotes, virei para o canto e fingi que não era comigo. Logo pensei, estou abusando da sorte porque ela vai me dar uma surra. Levantei, olhei para os olhos dela e disse:
- Bom dia mama! Como foi sua linda noite? E dei um jeito de abraçá-la e beijá-la! Ela olhou bem para mim e disse: Meu filho, você não tem jeito mesmo, hein... Vai se arrumar, tomar café, volta e arruma essa bagunça de quarto...
Pronto! Obediência completa.
Fui dar uma olhadinha na janela para ver se a vizinha estava só de calcinha, como nos velhos tempos, mas hoje foi azar puro, porque ela saiu bem mais cedo.
Voltei para a sala e minha mãe começou a falar de você e suas travessuras. O interessante foi ouvir dela, que estava com saudade de você e suas artes bem feitas, porém isso foi uma explosão para meus ouvidos. Não sei se lembra, o tanto que ela brigava com agente e por várias fazia você correr daqui de casa.
Pois bem, esta carta que te escrevo foi idéia dela. Ela me deu uma aula de como devo cultivar as minhas amizades, principalmente a sua. Sentei-me na escrivaninha do meu pai, peguei o fichário, a melhor caneta, busquei meu álbum com nossas fotos para eu relembrar dos bons momentos. A saudade passou a doer e muito, meu caro amigo, pois eu não sabia que gostava tanto assim de você e nem percebia o quanto nossa amizade era valiosa, isto é, é valiosa. Não posso te negar, mas as lágrimas não param de descer em meu rosto, molham a mesa e até mesmo esse papel que está em suas mãos. Não sei se escrever essa carta está me fazendo mal ou bem, contudo, há uma sensação jamais experimentada em meu coração.
Meus relacionamentos são bons com os garotos da escola, com as gatinhas nem se fala, mas falta você. Nossa amizade começou dentro da maternidade, nossas mães diziam que estávamos um do lado do outro no berçário. Iniciamos nossa infância juntos, a escola fazia parte da nossa vida, no entanto, as confusões e as brigas também. Não posso esquecer o dia que você me livrou do pessoal do fundão, sempre fui fraco para as brigas e você sempre o valentão.
Já ia me esquecendo, vou sair com a Luiza no sábado, minha mãe torce bastante para nós, mas meu pai disse que ela é bem patricinha... Se você estivesse aqui iria me dar todo o apoio. Outra coisa importante, meus pais disseram que é para você vir passar as férias aqui em casa, será por conta deles, amigo. Minha mãe está aqui do meu lado dizendo que é só as férias, viu... Brincadeira!!!
Vou parar por aqui, espero que goste de minha singela carta. Ah! Esperarei pela sua resposta, portanto, dê lembranças aos seus pais e seus irmãos. Desejo abundância de saúde, força e as mais ricas bênçãos de Deus. Um grande abraço de seu amigo que tanto te estima.
Luis Otávio,
 
Valmir Silva
Enviado por Valmir Silva em 19/02/2014
Código do texto: T4698010
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.