Reminiscências de um dia que nunca chegou...

Sentei e procurei no Alto as reminiscências de um dia que nunca chegou. Olhei para o céu cor de púrpura que destilava o sabor das vitórias vencidas e o torpor das derrotas sofridas.

Busquei no Alto a comoção rubra e pulsante das ideologias que me perseguem e que me achacam como vis lembranças de uma vida sem memória...

Senti a brisa do horizonte tocar meus sonhos mais profundos e afugentar meus devaneios mais infames, que outrora se reverberavam em acordes e sons de minha solidão, e continuam o martelar opressivo como punhais que rasgam a pele por inteiro e silenciosamente devassam minha alma...

Naquela colina pude ver minha estória escrita e não dita e todas as sequazes que não cabem nesta conta. Enxerguei uma realidade nunca vista e sentida, cheia de caminhos que percorri há muito tempo e de outros nunca antes desbravados nessa minha pueril e quixotesca essência de moinhos ventos...

Assisti a queda da inocência numa dessas ciladas nas escarpas íngremes que rodeiam este monte de além-mar. Assisti minha própria queda como um vídeo esfumaçado de erros repetidos e que mostravam minha primaz fraqueza diante das minhas paixões...

Pequei. E este pecado é mais uma estória em letra morta de uma vida tosca e sem o alarido e frenesi dos que se iludiram pelas minhas letras.

É a catarse de ilusões que se transformaram em realidade ferina e que me assombram nesta noite...

Elas me visitaram esta noite como arcanjos noturnos e sombrios da verdade apocalíptica que carregam consigo. Trouxeram-me a realidade da essência que insisto em negar...

Sou o mais vil dos mortais porque sucumbi ao capital de meus pecados que procurei vencer. A infâmia se vislumbrará tão perpétua até o dia de minha redenção, sublimada e dolorosa pela espera incerta do amanhã.

Meus erros são os retratos de minha imperfeição e consagração de minha desgraça; mas também a prova mais cabal e viva de que sou humano e um simples óbice à construção esplêndida universal do Criador e de sua obra.

Não sou digno das honras e lauréis nem dos manjares e banquetes aos que destilam do gozo da honradez e do estoicismo de suas próprias convicções...

Corrompi-me e assumo esta culpa, pois ignorei os sinais da Divina Providência e me enveredei por sendas e caminhos obscuros que me conduziram à cólera do esteio ignóbil dessas vicissitudes.

Pequei. E isto não admite comenda; somente a compreensão do fardo que se tornou mais pesado e mais laborioso em minha jornada, e que me tornará um dia, humilde o suficiente para ajoelhar-me aos pés da estreita porta da clarificação de meus pecados junto ao Alto, ao Divino e toda sua Trindade.

Ad majora natus

Alexandre Casimiro
Enviado por Alexandre Casimiro em 29/04/2007
Código do texto: T468573