O CALDO CULTURAL NA POESIA

(para José Damião Limeira, em Porto Alegre/RS)

Os textos abaixo são prosaicos, apesar de soarem à rima setissilábica, porque esta é a vertente oral nordestina, aquela à qual estás acostumado a ouvir e, portanto, a copiar na tua lavratura pessoal.

Há muita reflexão, como não poderia deixar de acontecer com um filósofo de formação, mas, cuidado, aqui tu não exercitas a filosofia, e sim o gênero literário POESIA.

E a boa poesia dificilmente pode estar a enfrentar preceitos éticos e filosóficos. A poesia como ferramenta, não é o instrumento verbal para a discussão filosófica.

Por que escrever sob a tutela da forma poética o que pode ser escrito e apresentado sob a ótica prosaica? Poesia tem cânones, regras específicas, principalmente quanto ao ritmo...

Ao demais, tecnicamente não usas a METÁFORA, que é a figura de linguagem caracterizadora, e mais: até denunciadora da POESIA.

Lembra-te, baseado em Stephanie Mallarmé: Poesia se faz com palavras, não somente com idéias!

E diria mais. A discussão direta do temário filosófico dificilmente se constituirá objeto da verdadeira poesia, principalmente a da contemporaneidade, porque é matéria de densidade diversa daquilo a que se propõe o verso na cabeça do leitor: a leveza!

Só gênios universais como o português Fernando Pessoa e o mexicano Octavio Paz conseguem isto. E a genialidade é coisa tão rara! Estes são tão poucos no decorrer dos séculos de civilização...

Outro autor genial, combinando em seus textos a filosofia, é Rabindranath Tagore, nascido em Calcutá, Índia, em 1941. Também Khalil Gibran Khalil, traduzido, no Brasil, por Mansour Chalita.

Mas o caldo cultural dos orientais, e em particular o dos indianos, é diverso do nosso, que é tipicamente ocidental. Nos orientais, em poesia, predomina a transcendência na estrofe final dos versos clássicos, como os sonetos e nas composições longas, tal como nas décimas e oitavas com muitas estrofes.

Desta sorte, o que percebo é que, por tua formação acadêmica na área da filosofia, a figura do perquiridor filosófico é preeminente à do poeta ao ponto de se sobrepor naturalmente.

Mas isto não é novidade. Segundo Zeferino Paulo Freitas Fagundes, precioso mestre no acicate poético (em meu be-a-bá, que data da década de setenta), na obra do emérito poeta gaúcho Carlos Nejar, que ocupa cadeira na Academia Brasileira de Letras desde 1988, transparece a figura do promotor público, no início de sua lavratura em poesia.

Em minha própria obra de iniciante, brigavam o capitão de polícia e o poeta. Isto lá pelos cerca de 30 anos vividos.

Aponto estas preocupações apostando no teu talento e brilho pessoais. Sei que és um homem simples e tens a humildade espiritual como um norte de vida. Os teus entregues verdes anos à congregação religiosa, fizeram do frade uma promessa em poesia.

Acaso permaneceres a escrever e a apresentar como se fossem versos o que não o é formalmente, então é melhor assumir o verso setissilábico e ir necessariamente contar sílabas e rimas em redondilhas, que é o que se presta pra este tipo de verso de gosto eminentemente popular.

Parabéns por saíres do casulo, expondo os teus textos. Escrito na gaveta é canto sem garganta!

----- Original Message -----

From: "jdlimeira" <jdlimeira@bol.com.br>

To: "joaquimmoncks" <joaquimmoncks@brturbo.com.br>

Sent: Friday, April 27, 2007 9:03 AM

Subject: poesias...

A RELIGIÃO PENSA AS RELIGIÕES

José Damião Limeira - Filósofo, Poeta e Escritor

A RELIGIÃO pensa as religiões!

Deus pensa os homens.

O homem tem a pura liberdade

Deus orienta a humanidade.

Qual o verdadeiro significado das religiões?

Onde está a RELIGIÃO das religiões?

Existe uma religião maior do que o AMOR?

Quem ama a vida com fervor?

Doutrina, dogmas, rituais são necessários?

Levam os homens a Deus?

O que são prioritários?

Não é ver Deus no outro e o outro em Deus?

A verdadeira religião ensina a amar,

quem cultiva o amor tem esperança,

é preciso pensar para agir e agir para pensar,

o testemunho é nossa verdadeira herança.

ILHA DE DEUS

José Damião Limeira - Filósofo e Escritor

- Ilha de Deus,

ilha de histórias;

protege os filhos teus

com graças e glórias.

- Na ilha tem pobreza,

dignidade é seu sonho;

a coragem é sua riqueza,

lutar é o que proponho.

- Imagine você com fome,

sem trabalho,

sem moradia;

a tristeza lhe consome,

rouba-lhe o orgulho

de viver com alegria.

- Sirva a Deus

ajudando o irmão,

construindo felicidade;

olha os filhos teus,

fazendo oração

com fé e caridade.

SER MÃE...

José Damião Limeira - Filósofo e Escritor.

- Ser Mãe é ser Vida,

existe com razão;

a todos convida

para viver com o coração.

- Ser Mãe é ser Luz,

ilumina o caminho;

ajuda a carregar a cruz

com amor e carinho.

- Ser Mãe é ser alegria,

nos ensina a viver;

todo dia é seu dia,

sou seu filho com prazer.

- Ser Mãe é ser Esperança,

entre nós há amizade;

seu testemunho é a herança

que espalha felicidade.

MULHER GAÚCHA

José Damião Limeira - Filósofo e Escritor

- Mulher gaúcha,

verdadeira escultura;

exemplo de mulher

para qualquer cultura.

- Seu corpo é belo e atração,

sua alma é força e desejo;

por ela tenho admiração,

para isso dou-lhe um beijo.

- Ela não põe medo,

assim a amo;

entre nós não há segredo,

acima ou abaixo do pano.

- Nela admiro a inteligência,

encontro felicidade;

dar sentido à minha existência,

para amar por toda eternidade.

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre Prosa e Poesia. Alcance, 2008, p. 241:5.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/466468