Sangue que escorre pelas palavras
Vontade de vomitar palavras em cima de qualquer papel, vontade de colocar pra fora esse sentimento horrível, dessa sensação horrível, desse medo horrível que corre cada segundo mais violentamente em minhas veias me fazendo sangrar por cada poro presente em todo o meu corpo.
Aquela sensação de saber que está vivo, por querer morrer. Porquerer começar tudo de novo porque tá tudo errado, porque não era assim que estava escrito nas suas histórias e sonhos e contos de fadas.
Aquela sensação de síncope horrorosa causada pelo descaso de se sentir sempre como uma segunda opção, um prêmio de consolação, uma vaga de excedente. Que apenas é aceita por não se conseguir um prêmio final. Aquela vontade de cair em um buraco e se enterrar pra ver se dessa semente escura chega a germinar algum tipo de rosa.
E se o que pintam do ser especial é tão verdade, porque não aparecem interessados neste quadro, porque os leilões precisam de tantas concessões, porque as coisas precisam ser tão burocratizadas, tão complicadas, porque a tinta precisa ser ungida pelo sangue vazado de um coração vazio, vazado de tantas fendas que já se abriram por não querer temer a dor.
E se pintam tanto um especial que é especial apenas para se olhar de longe, como uma jóia rara que todo mundo quer mas ninguém tem, que ninguém jamais ousor tirar da vitrine da loja acostumando-se a olhar apenas de longe. Que apenas é almejada caso não haja um similar interessante para se levar no lugar, se é que essa jóia não é o similar interessante.
E do que vale ser especial se o especial é raro e o raro tão poucos tem. Do que adianta ser sempre parte e nunca um todo. Do que adianta se fazer todo e continuar sendo parte?
Um dia como hoje eu só queria sangrar todas as minhas lágrimas e permitir morrer mais uma vez, me permitir morrer para tentar renascer alguma coisa que seja algo que ao menos preste pra alguém, alguma coisa que possa servir de utilidade, que alguém vai pegar como penduricá-lho, ou fazer de chaveirinho.
As coisas certas para as pessoas certas, mas será que isso existe? Será que é ser como tem que ser? E o que é ser? Do que adianta? O que importa?
Só sei que o mundo é vazio e que estou com meu fardado razado no vale das lágrimas, na sangria da escuridão da minha própria história que todo dia faço florir, até o dia em que vejo que não findou em nada.
Até o momento em que nada parece ter valido a pena e acaba se chegando a estaca zero, zero, porque no final de tudo o especial é tão especial que se acaba em zero.
E todo dia acaba com a mesma pergunta, do que vale ser aquela pessoa especial que as pessoas conhecem, que admiram, em quem se inspiram... Ninguém se importa...
Não importa..