AMIGA, SOMOS O "OUTRO DO OUTRO"
(Uma amiga, em carta, me disse "o espelho que me reflete é o outro,aí sofro." - em resposta:)
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No “outro” está a mesma centelha que anima a nossa alma. No “outro” também estão traços de nossa personalidade: no semelhante notamos o que nos falta, o que em nós é excesso e transborda para pior e para melhor. É nos olhos de quem nos repara que buscamos os traços da nossa personalidade e as aparas do nosso caráter - na maior parte das vezes vemos o que desejamos e nada nos acrescenta a busca, na maior parte das vezes não aprendemos com o que preferíamos não ter notado.
É no outro que encontramos a aprovação, a confirmação e alguma segurança para decidir a escolha que faremos, o passo a ser dado e a direção a tomar. Seguir na vida, então, seria como reconhecer, reverenciar e colaborar na construção perene que se dá entre o olhar e o desejo.
No entanto, e porque somos “o outro do outro”, a mesma urgência é caminho de mão dupla – há um tempo para cada realização. Nada é conclusivo, nem mesmo a morte.
De mim à mim: entalho, esculpo e moldo olhar a fina textura que se apresenta como “reflexo, outro” e recebo, desconsertado (como se eu mesmo fosse um texto a ser revisado, corrigido e lido) a caligrafia que seus olhos desenham.