A PITONISA TINHA RAZÃO.

 

 

Imaruí, SC, 24 de abril de 2007

 

 

 

Venerável Diotima,

Eros saúda-te!

 

 

 

 

Queira me desculpar, ó divina Diotima, mas essa foi uma forma que eu encontrei para questionar e te louvar, porque um dia afirmastes a Sócrates que existem os mistérios menores e maiores do amor.

Mas, eu também quero te lembrar que, eu fiquei sabendo disso porque Platão falou de ti em: “O Banquete”.

Quem sou eu para questionar a sapiência de uma sacerdotisa e pitonisa, muito menos a sabedoria de Sócrates ou de Platão, todavia sábia Diotima, eu quero te informar que em primeiro lugar vivo há muitos séculos depois de ti, exatamente a dois mil seiscentos e sete anos.

E, em segundo lugar, se estiveres plugada ou ligadona em nosso século XXI, o século do acelerador de partículas quânticas e da relatividade, assim eu gostaria de te informar da existência de um novíssimo sentimento, o tal de amor virtual.

Entretanto, eu devo te prevenir que isso é coisa da era cibernética, um mundo totalmente eletrônico e não conhecido na tua época.

Explico-te:

Nesse mundo eletrônico, as nossas imagens são transportadas pelo espaço por meio de impulsos eletrônicos.

Isto é, elas são codificadas no cérebro de um computador e misturadas com elétrons e fótons que viajam moduladas, também por meio de um sinal eletrônico, totalmente abstrato e impalpável que é cedido pelo serviço de telefonia.

Bom, eu espero que tenhas entendido!

O fato é que, ó divina Diotima, eu posso visualizar uma mulher ou um homem lá do outro lado do planeta, sem ser necessário sair da minha cadeira em frente ao computador ou TV.

E nessas andanças eletrônicas e, dependendo do assentimento da mulher do outro lado que estou vendo virtualmente em me computador, pode surgir um tipo de envolvimento novo, ao qual chamamos ou denominamos de “amor virtual”.

Não sei por que, eu tenho que comparar esse amor eletrônico (virtual) com o amor platônico, o filósofo (Platão) que me perdoe.

O amor platônico, eu acho que todo o romântico sabe o que é.

Só para lembrar, esse tipo de amor é aquele que nunca se concretiza, o amor platônico vem de Platão, pois o filósofo acreditava na existência de dois mundos: o mundo das idéias, onde tudo seria perfeito e eterno, e o mundo real, finito e imperfeito, uma simples cópia mal acabada do mundo ideal (das idéias).

O amor platônico ou virtual, dizem os psicólogos, eles revelam uma dose de imaturidade emocional, pois eles nunca experimentam os limites e as frustrações de uma relação concreta.

Outros entendidos, dizem que esse tipo de amor faz bem à economia psíquica, e que é um novo etos do século moderno, mas não cria nada mais além do que supostas sombras do verdadeiro amor.

Nos dois casos de amor, aonde não existe a concorrência dos cinco sentidos a sexualidade está interditada, sendo assim, não experimentamos nem sequer o primeiro degrau do amor conforme Platão no seu “Banquete”.

Acreditamos também que nessa singularidade do virtualismo, dificilmente o amor se é que existe, prosperará, pois o amor necessita da presença física do outro, o alvo foco do sentimento.

Ensinou-nos o filósofo que, existe um princípio cósmico sobre o amor.

Essa é uma história contada por Platão em “O Banquete”, como já dissemos, mesmo porque Sócrates não nos deixou nada por escrito e nem tão pouco a consulta que fez contigo, Ó Divina Diotima.

Nessa obra, Platão nos diz que tu, quando pitonisa, informaste a Sócrates que o amor é uma escada de sete degraus.

E que esses degraus vão de um amor por uma pessoa, até ao amor pelas realidades superiores do universo.

Nesse trabalho de Platão, agora por conta dele, afirma que mesmo que eu me apaixone por uma pessoa, atraído por suas qualidades, fixar-me exclusivamente nessa pessoa, é permanecer no primeiro degrau de uma escada que possui muito mais degraus.

O primeiro degrau ou o passo inicial nessa escada, para a maioria das pessoas, ocorre através do amor físico, pois o ser humano busca a imortalidade através da pessoa amada, por meio da procriação.

Platão, esse filósofo romântico e muito platônico diz ainda que, o amor sexual é um ato natural, mas com raízes infinitamente mais profundas.

Atualmente, isso quer nos inferir que, o “amor platônico” e o “amor virtual”, eles não nos oferecem a rica e única oportunidade do contato físico.

Esses dois tipos de amor são quase como umas fantasias que vivem no inconsciente, nada substitui a presença física, daí a dificuldade em administrá-los e ou trazê-los para a realidade.

Que estranhos mecanismos psíquicos são esses, capazes de mobilizar os escaninhos mais escondidos e impenetráveis da nossa alma, fazendo-nos alimentar um amor sabidamente impossível!

Seria o mesmo que se apaixonar por uma fotografia ou uma imagem projetada, (TV – Cinema – Computador – Revistas e etc.) é fato que nessas circunstâncias fica-se prejudicado com a ausência da animação e do indispensável contato físico.

Para que o amor seja vivido de forma atual e intensa, é necessário que se suba todos os degraus e, seu eu não subir os sete degraus, por certo ficarei e permanecerei estagnado.

Querida e venerável Diotima, tu tens toda a razão, pois o que eu vejo no século dos aceleradores de partículas e da relatividade, são pessoas completamente estagnadas que se fixaram apenas no primeiro degrau de amar: o amor físico e sexual e nada mais. (procriação)

Hei de amar em todos os degraus, sabes o porquê sábia pitonisa?

Por que a mulher a ser amada, eu a transformarei na minha real basílica de amor e me prostrarei diante dela sem o caráter do sacrifício.

Saúdo-te! Ó divina Sacerdotisa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 24/04/2007
Reeditado em 24/04/2007
Código do texto: T462295