DO MÚTUO RENASCIMENTO
NO INÍCIO DA MADRUGADA DE 20 DE DEZEMBRO DE 2013
Tenho um compromisso de alma contigo, cujo alcance meu entendimento não possui poder para abarcar. A vida não nos permitiu a partilha de destino comum; jamais pudemos caminhar lado a lado, juntos. Não sei se teríamos sido felizes, não o sei. Sei que minha vida prossegue entrelaçada à tua por elo misterioso e fundíssimo, casamento traçado não sei em que plano e celebrado não sei em que tempo do mundo.
Tenho uma certeza inabalável, indelével: teus destinos de alma e de vida me importam tanto quanto meus destinos de vida e de alma. Bem assim, espelho, o mesmo de sempre espelho inexplicável. Espelho que permanece, ao menos em mim.
Permaneço-te por perto, apesar das dores acumuladas, e a continuar tua cúmplice, como ao longo de tantos anos, nem sempre em gestos e ações que minha razão aceite como plenamente legítimos, gestos e ações que foram mudando de forma de acordo com a mudança dos tempos – bem quisera eu que repensasses, de verdade e a fundo, algumas de tuas posturas e palavras; de todo modo, mesmo sem estar sempre acorde contigo, eu tua cúmplice, invariavelmente. Armadilhas do destino, eu o sei e já não vejo meios para desfazê-las.
Precisamos renascer, eu e tu. Tu em tua alma e vida, eu em minha vida e alma. Não podemos realizar essa mútua tarefa juntos, um ao lado do outro, no imediato e no real dos caminhos; a vida nos vedou desde sempre esse direito. Então, precisamos realizá-la sozinhos. Urge que a realizemos, urge. AGORA.
Quando chegar minha hora de partir deste mundo não quero partir com a alma cinzenta, pelos meus e pelos teus fracassos interiores. Mesmo que não me ames mais, em nome do teu tão fundo, ainda que pretérito amor, e em nome do amor meu por ti que, em mim, nunca deixa de ser, faz algo por mim, ainda: Luta com teu desânimo, com tua falta de esperança, com tua amargura agônica, com teu desencantamento absoluto; luta, senão por ti, por mim, que também preciso vencer o desânimo, a falta de esperança, o desencantamento, em mim. Isso o que preciso que faças por mim: Que lutes contigo, com as forças escuras e obscuras que te paralisam, para que possas renascer, renascer de ti em ti mesmo. Em nome de tudo o que habitou nossa alma, luta por ti; isso me ajudará a ampliar-me as forças, para que eu prossiga a também tão difícil luta minha por mim. Lutemos, não podemos sucumbir. Que possamos, ainda, vir a sentir que as nossas – tua e minha - vidas não existem em vão.