Carta de Elisa para Higgins
(baseada na obra teatral de George Bernard Shaw)


Caro Professor Higgins,

Acredito que não esperava que logo eu lhe enviasse uma carta, depois de tudo que aconteceu. Porém, como faz muito tempo que não nos vemos pessoalmente, eu gostaria de dizer o quanto minha vida tem mudado e como me divirto olhando para trás e lembrando tudo que se passou, apesar de sua ausência em meu casamento, mas não se preocupe, não fiquei nem um pouco surpresa.
Primeiramente, devo dizer que o casamento com Freddie foi a melhor coisa que me aconteceu, pois apesar de todos os problemas financeiros que enfrentamos juntos, Freddie nunca recusou minha ajuda. Além disso, é um marido tão fino e gentil, que nunca chegou a levantar a voz pra mim uma única vez. Virou praticamente o mar onde eu vivo e me encontro. Aprendi a conviver bem com a família dele e percebi que todos são muito amáveis. Freddie realmente teve a quem puxar. Outro dia fomos ao parque e ele recitou algumas poesias que havia escrito para mim há algum tempo. Foram as palavras mais doces e sinceras que ouvi desde a noite em que fomos à embaixada, se é que o senhor se lembra. Acho que tive muita sorte de ter encontrado o homem mais maravilhoso do mundo.
Mas a respeito dos outros: como vai a Sra. Pearce? Ela não pode imaginar o quanto sinto saudades. Quero que ela sempre saiba que foi como uma mãe pra mim durante o tempo em que vivi com vocês todos, e sempre que ela quiser, está convidada para tomar um chá conosco. Faço inteira questão de que ela venha. A propósito, Coronel Pickering esteve em nossa humilde residência faz um tempo, veio pessoalmente nos trazer o presente de casamento – um lindo gramofone. Enfim, gostaria de saber se o tem visto ultimamente. Se sim, por favor diga que sinto saudades e que gostaria que nos visitasse mais vezes.
Fico feliz em dizer que suas aulas me inspiraram, Professor. Hoje dou algumas poucas aulas de fonética em minha própria casa, o que nos ajuda muito com as despesas. Além disso, estou costurando. E somente para seu conhecimento, como deve estar imaginando, sim, penso em abrir uma floricultura e estou precisamente guardando algum dinheiro para tal situação. Penso em ajudar meus antigos colegas, apesar de saber que não me reconhecem mais.
Quanto ao senhor, Professor. Como andam suas aulas e suas pesquisas? Suas roupas estão bem engomadas? Seu café da manhã sempre do jeito que o senhor espera, na hora em que pediu? Espero que já tenha encontrado alguém que possa ir comprar seu presunto e pão matinais e, principalmente, que possa buscar seus preciosos ternos no alfaiate. Sei o quanto o senhor é ocupado, e é exatamente por isso que não me estenderei muito.
Semana passada, Freddie e eu fomos às corridas e encontramos a encantadora Sra. Higgins, sua mãe. Nem pode imaginar o quanto me senti contente ao vê-la. Tomamos um delicioso chá juntas e conversamos bastante. Claro que lhe fiz o convite de vir nos visitar sempre que quisesse. Afinal, não tenho como agradecê-la por ter me acolhido em sua casa depois daquele nosso pequeno incidente a ver com seus chinelos.
E apesar de tudo que se passou, espero de todo meu coração que as coisas estejam indo muito bem. Sei que será em vão lhe fazer tal pedido, mas saiba que estendo meu convite para uma visita ao senhor também.

Minhas sinceras recomendações,

Elisa “Doolittle” Eynsford-Hill.

P.S. Em breve, lhe devolverei as cinco libras que havia pagado por mim a meu pai para efeito de sua aposta, portanto, não se preocupe, pois não pretendo provocar-lhe a cólera mais uma vez.
Leonardo Ribeiro
Enviado por Leonardo Ribeiro em 16/12/2013
Reeditado em 16/12/2013
Código do texto: T4613631
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