Bento

Bento. Não sei se já te disse, mas este é o nome do personagem do meu livro preferido-de-todos-os-tempos. Um daqueles que marca a vida da gente, marca tudo, faz-se presente quando a gente cambaleia e acha que vai cair. Quando tem a sensação de que é frágil e não é por nenhum motivo especial, é só por ser humano.

Lembro-me da primeira vez que te vi, perto de um violão. Poderia haver melhor companhia? Alguém te diz e você não acredita: tem que ver, tem que sentir. É pouco Bento pra muita história bonita. Falta linha, Machado. Falta.

Que falta faz você, te olhar e não querer entrar em casa nunca mais. Sinto-me infinitamente ridícula por não conseguir dizer as coisas que eu senti. Isso é tão sufocador, há tão pouca beleza e honestidade nesta coisa de se esconder. Eu não quero, mas me escondo.

Agora é tão estranho olhar pra capa do livro do Machado de Assis e não lembrar de você. É tão estranho tudo. A gente não devia se conformar com essa coisa de gostar de alguém e deixar isso passar. Assim, como quem perde um ônibus com certo incômodo, mas que no fundo sabe que outro pode te fazer chegar atrasado. Mas vem.

Então neste vai e vem, vou-lhe dizer, Bento, o que me faz por as ideias no papel. Se pouco pode-se dizer de alguns poucos beijos e carinhos trocados vezenquando. O que pode-se então, dizer quando as pessoas do seu dia-a dia dizem que você está mais bonita quando você chega em casa. Que irradia luz.

Um dia, minha avó, a mulher mais sábia que eu conheço disse que o merecia toda felicidade do mundo, porque por onde eu passo, deixo as pessoas felizes, sentindo-se amadas. Eu me agarrei a estas palavras como um mandamento e tento fazê-las por merecer todos os dias. Depois da minha avó, foi você quem me disse isso. Do seu jeito, mas de um jeito que me deu um nó garganta. Sensação boa, de poder ser você e alguém te reconhecer quando você não faz nenhum esforço além de ser você em si mesmo. Pra estar bem consigo e com os outros.

No meio de tanta coisa boa, vem um arzinho de tristeza, este, que me toma os olhos e as mãos que lhe escrevo. A gente acha que nunca vai acontecer com a gente. E quando acontece, basta abrir os olhos depois de sonhar uma noite inteira e ver que o sonho não é nosso. Isso dói. Quando alguém disse: Só não posso me apegar. Eu já sabia que o destino vinha pra bagunçar tudo. Que esta incessante busca pela quietação e paz estava longe. Eu não queria gostar de você assim, não deste jeito medroso e cheio de poucas boas intenções. Deste jeito covarde de quem já sofreu por meia dúzia de rapazes e acha que já viveu muito. Queria me olhar no espelho e ter orgulho de gostar de um homem como você. Lindo, que encanta, que passa alegria, que prende toda minha atenção só na fala, no sorriso. Como não gostar? Mesmo de um jeito errado, meio torto.

Mesmo com a sensação de que não é pra mim. Não é pra ser. Desculpa, somos suscetíveis. Se tivesse outro jeito, eu juro que tentaria. Mas agora dói. Dói ver em você tudo o que é seu pra outra pessoa. E pedir forças e bom coração pra só te querer bem. Porque você merece, pra além, com quem e onde for tudo o que você transborda , O Bem.

Bento, acho que você merece saber que tem que seu número tá salvo assim no meu celular. Que eu guardo duas fotos suas no meu computador e que você tem um espaço especial reservado no meu coração. Desculpa esse monte de bobagens. Quer saber? Desculpa nada. Eu já não sei mais quem a história escreve. Mas eu vou guardar, como uma daquelas fontes preciosas, que rendem descobertas incríveis. Foi incrível me (re) descobrir através de você. Bento você é incrível. Sim, incrível, derivado do inacreditável, que não se pode acreditar. Como as coisas mais bonitas da vida. As mais distantes. Impossíveis. E que pena, que não se pode ter.

Livia Lemos
Enviado por Livia Lemos em 12/12/2013
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