A Festa - Parte 2

Eu sei que nem deveria ta tocando mais nesse assunto. Desda ultima vez que nos vimos, se passou tanta coisa, agente cresceu, e crescemo tanto que não cabemos mais dentro daquelas pessoas cheia de esperança que fomos um dia... Infelizmente. E desda ultima vez que nos vimos eu tento evita esse assunto. Mas não consigo, não conseguimos.

Eu me sinto como se tivesse em uma canoa descendo correnteza abaixo, não importa o que faço, a correnteza sempre me leva a um só lugar. Não importa o que faço, a vida sempre me leva até você, sempre voltamos a esse momento. Nesse momento sempre me lembro daquela musica do Cazuza, "Codinome beija flor", na parte que ele

canta "Pra que mentir. Fingir que perdoou. Tentar ficar amigos sem rancor". Pois é, não podemos dizer que não tentamos. No nosso caso não é bem um rancor, é a mesma sensação de olhar flores murchar em um vazo em qualquer canto da casa. Um dia foram lindas, mais agora é triste. Com certeza você pensa que elas podiam ser eternas de tão belas. É, mais ou menos isso, é como se tivesse esse vazo cheio de flores mortas entre agente. Doi . Agente não teve condições de continuar regando.

Enfim, como estava dizendo, a vida tem mesmo um senso de humor muito peculiar, ela adora colocar agente frente a frente. Como no dia daquela festa, sabe? Aquela festa que falei que te vi. Eu soube chegar até lá porque um dia você me levou. Lembra? Guardei bem o endereço. E isso só me veio na cabeça quando a saudade aperto, e percebi

que de tanto tentar não esquece seus detalhes, eles já estavam sumindo. Igual deixa um disco velho de vinil rodando sempre a mesma musica. Os detalhes, já estavam arranhados. Me recordo bem do barulho, das pessoas, do escuro. E de repente, você passando logo atrás de mim, em um minuto que te perco de vista. Você não me viu,

é claro. Mas eu estava la, do seu lado na hora que você grito alguma coisa pra alguém. Nem sei dizer bem o que foi que disse. Mas a sua voz, meu deus ! Aquela voz, sim, era você. Só podia ser você. Era a mesma voz que depois de anos ainda que com muito custo conseguira guarda. Quase me matou ouvi assim de pertinho. Como um golpe do Sub Zero, eu fiquei congelada... Como pode? Me diz, como pode? O que você tem que me deixa assim? Nem vem me dizer que é porque temos a mesma ideologia, porque só ideologia não deixa ninguém assim. Faz parte, do pacote, mas sabemos que é não é tão simples. Talvez seja porque você é minha versão masculina, e até os defeitos são o mesmo, um entende o outro melhor que qualquer psicologo. Penso em vários porquês e talvez. Talvez amor, carma, macumba... Vai saber. Só posso dizer, que garoto, você meche comigo. Te ouvir tornou meu dia melhor. Quando cheguei em casa sapateei de tanta felicidade, eu abria os braços e um sorriso enorme, gritando igual louca, agradecendo o senhor todo criador por ter me dado aquele momento. Você sabe que não simpatizo com nenhuma religião, e sou desconfiada sobre Deus. Mas em todo o

mundo Deus significa coisa boa, significa amor. É uma energia movida de sentimentos bons. Eu precisava agradecer alguém e só me vinha Deus na mente.

Sempre me lembro dessa festa, de ver você com as mãos no bolso todo tímido encostado na parede. Todo lindo. Rindo com os amigos que vinha descontrai. E mesmo assim, sem participação nenhuma daquela cena. Ja te disse que você parecia estar la só por estar? As vezes te percebia distraído, com o olhar perdido. Te juro que me via naqueles olhos. Hoje em dia o que existe é aquele vazo de flores murcha. Triste, trágico, feito a cena dramática de Julieta com o punhal para se matar. Um encerramento drástico, as luzes se apagam, e o silencio. Todo fim é vazio. E desde então estamos ai, incompletos. Vivendo do que sobrou e evitando falar sobre tudo isso. Sonhando com eu e você, um filme e a chuva la fora. E depois de todo amor, dormir agarradinhos a noite inteira. Quem sabe um dia as coisas não sejam diferentes? Quem sabe...