Carta para Alceu
Franca, 22 de outubro de 2013.
Meu amado irmão Alceu,
Escrevo-lhe para saber como andas, sinto falta de quando éramos pequenos e podíamos desfrutar da vida sem preocupações, sem cobranças e sem entender o quanto é chato ser gente grande. Lembra quando a mamãe fazia mingau de maisena para comermos vendo filme nas tardes ociosas? Somente as doçuras da mamãe mesmo para fazer-nos ficar quietos prestando atenção nas telas de uma televisão.
Estou com saudades dos nossos encontros, preciso tanto ver-te para contar o quanto ando atordoado, com indignações fortes e contundentes. A vida tem me proporcionado surpresas incríveis, momentos mágicos. Mas quando percebo o quanto as pessoas são vazias e medíocres, tenho vontade de me afogar num mar profundo. E talvez lá, no mar, eu tenha a sorte de encontrar animais marinhos com capacidade para viver em paz.
Meu irmão, preciso continuar desabafando... Sabe quando cortamos as unhas e nos sentimos mais limpos e higiênicos? Pois é, eu gostaria muito que a vida tivesse unhas, eu limparia o passado nas partes que afetam o presente. Porque o que há de mais precioso nessa vida é o hoje, é o que vivo agora. Estou apaixonado, entreguei meu coração e às vezes nós brigamos, mas eu sei que passa.
E eu gostaria muito de dizer que “se eu tivesse mais alma para dar, eu daria” como já disse Djavan. Eu poderia escrever tantas canções, tantas poesias, mas eu sei que não seria suficiente para demonstrar todo o meu amor. Na semana que vem talvez eu abra uma conta num banco qualquer para começar a preparar meu casamento, é que fui fisgado e não quero perder esse amor.
A verdade é que hoje escrevo-lhe para descrever minha dor, nós discutimos por inseguranças, ciúmes, pelo passado que tanto nos preparou para sermos quem somos hoje. Nós fortificamos esse amor a cada dia. No entanto eu vejo que só dizer não basta, escrever também não. Mas é que tatuagens, são para sempre.
Um abraço forte.
Desejo que esteja em paz.
De seu irmão que o ama e sente sua falta, Heitor.