Porto Alegre, 01.10.01
Oi, Rita:
Como este mundo está muito agitado, também estou. É um corre-corre sem fim. Na faculdade, as provas, o trabalho de conclusão, o estágio, meu corpo pesado, estão me enlouquecendo. Mas o pior — o pior mesmo — é que enveredei por um caminho sem volta. Sei que vais ficar chocada. Sei disto. Mas como és minha amiga e porque preciso desesperadamente desabafar, larguei tudo para te contar. Estou num beco sem saída. O Samuel nunca poderá saber. Por favor. Sabe aquele professor? É. Aquele mesmo. Foi loucura, vais dizer. Sei disto. Droga de vida. Nada que me diga, que me recrimine será diferente de tudo o que eu já me disse, já me xinguei. Meu noivo nunca iria me perdoar, se ficasse sabendo.
Foi no congresso em Florianópolis, no inverno. Estava frio demais. Ele quente, carinhoso, bem mais velho, perfumado. Isto não se justifica. Sei, sei. Preciso ter é coragem de dizer que errei.
À noite, depois de todos terem se recolhido, ele foi ao meu quarto. Duas taças, uma garrafa de espumante, olhos de cobiça. E o perfume. Ah! O Perfume. Achei interessante. No começo, pensei em apenas me divertir com a situação. Depois, as coisas foram embaralhando. E não deu outra.
Casa de ferreiro, espeto de pau. O ditado é antigo, mas serve para te explicar por que não me dei conta. Culpa da correria. Quando quis abortar, não tinha mais condições.
Samuel está vibrando, com o nascimento do filho. Vamos nos casar antes que nasça. Somente rezo para que não tenha os olhos cor de mel.
Beijos.
Raquel.