Uma sobre dinheiro

Não me faltavam papéis que compram vidas, pelo contrário. Confesso que na gaveta do meio do armário do meu quarto tem um monte deles guardados. Sempre juntei o que ganhava dos meus pais, dos meus avós, ou os que achava por acaso. Certo dia percebi que só fazia acumula-los. Tinha uma gaveta cheia deles, uma conta no banco com meu nome só pra que pudesse guardá-los pro futuro. Eles mais tarde me fariam feliz, já dizia minha mãe. Essa coisa de que não compram felicidade é questionável. Eles me pagariam um bom curso, que me faria feliz por conseguir mais deles após a conclusão deste.

Certo dia joguei todos eles no tapete do quarto, e comecei a contá-los. Pensei em tudo que queria, e não havia papel que bastasse. Não por querer mais, mas por tudo aquilo que eu desejara não estar à venda em um mercado qualquer. É claro que de vez em quando os trocava por livros, por música, por um bom café... Mas uma coisa sempre intrigava-me. Parecia que o café nunca era igual ao café da fazenda que tomava com a minha avó contando suas histórias. E suas histórias, por mais simples, também me pareciam muitas vezes melhores do que os melhores livros dos melhores autores. Deixei-os no chão, empurrei-os para o lado e peguei meu violão. Nem as melhores músicas, gravadas nos melhores estúdios, pareciam-me tão boas como as minhas notas amadoras que perdiam-se em pequenos erros.

Rodrigo, a/c Pamella

Pamella R
Enviado por Pamella R em 13/10/2013
Código do texto: T4523620
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