A um ex-amigo

Não sei como começar essa conversa, mas peço que tente me entender, pois tentarei esmiuçar minhas angústias e só você merece a minha confiança para ouví-las.

Como você acha que devo me portar diante de uma situação como essa?

Não existe laço nenhum de afetividade que nos una atualmente; embora algum tempo atrás, tinha você como amigo, logo, o laço que nos unia era a amizade; porém agora, não encontro palavra alguma para designar o que na verdade somos um para o outro.

Cada vez que nos encontramos é uma festa! É alegria que parece não ter fim. Parece até que nós encontramos o paraíso perdido. A felicidade nos bate à porta com tanto entusiasmo que temo vê-la quebrar esse sonho e eu voltar a cair novamente na solitária realidade.

Porém, no instante seguinte, nos separamos e tudo acaba.

Aínda no retorno para minha vida, a realidade vai caindo lentamente e com ela meu coração vai se desfazendo aos pedaços porque simplesmente não consigo assimilar o que houve.

Aínda enebriada, fico em dúvida se me apego ao sonho que parece ter sido vivido ou baixo a poeira e encaro de frente a situação tal qual ela é.

Então me desespero!

Procuro me atentar lentamente aos problemas rotineiros, porém aínda sou arrastada a pensar no que realmente aconteceu. Então assustada me indago:

Onde estou? Onde estive? Cadê você? Por que essa solidão tão fria?

Tudo ao meu redor continua igual; nada saiu do lugar; somente eu não sou mais a mesma.

Tenho em meu corpo alguma marca que prove o que eu vivi? Alguma marca de amor?

Que amor? Existe amor?

Tudo o que sinto existir no momento é a tristeza de uma separação.

Dentro de mim as indagações surgem:

Aínda vou vê-lo? Será que ele aínda lembrará de mim?

O telefone toca me trazendo novamente à realidade. Acordo assustada como se acorda de um pesadelo: coração aflito e acelerado. É o que me resta...

Minhas noites de sono se tornaram bem menores. Sempre acordo de madrugada e fico rolando na cama sem conseguir mais conciliar o sono. Tenho perdido o apetite e o alimento já não desce pela garganta como antes. Emagreço...

Você, que é tão sabedor de tudo, não gostaria de me ajudar? Não me diga que não tem como, porque você sempre encontra respostas para todas as questões.

Me explica o que está havendo? Me diz o que na verdade existe entre nós. Pois de uma coisa tenho certeza: não sei o que é isso que estamos vivendo, mas bem que sufoca e dói.