Desabafo de ex-amante.

Assim, como tantos relatos de mulheres, nunca imaginei que seria amante. No entanto, após uma relação apaixonada e tensa, nada nem ninguém parecia me tirar das trevas. Então apareceu você. Lindos olhos, tão confiante de si, provocador. Para mim, paixão à primeira vista. Para você, não sei bem. Mas é fato que nos atraímos. Um belo dia você resolve se declarar em frente a todos no lugar onde trabalho. Eu desconcertada, o procuro. Você me falar que não deseja nada além de sexo. Eu reluto, mas topo, já sabendo que seria a outra, principalmente, sabendo que existe uma criança na história. Ficamos juntos. Pela sua ousadia nos encontros iniciais, pensava que você iria me agarrar, mas nunca pegar em minha mão e me dizer: - Senti tanto a sua falta. Diga-me que me encontrará toda semana. Mas, no dia seguinte, você claramente demonstra sinais de ressaca moral. Passa a me ignorar pelos corredores e eu compreendo: - Culpado. Então resolvo seguir em frente, não pressionar. Ignorá-lo tal como fez comigo. Logo arrumo um namorado, você volta a me procurar e aviso que estou comprometida e que não trairia meu namorado. Você não acredita, mas é a pura verdade. Mas meu romance termina e você parece saber a hora certa. Logo me procura. Mais uma vez cedo, sem pensar muito nas consequências. Seja você a exceção, penso eu. Mais uma vez nos separamos. Eu sabendo da falta de futuro dessa relação tento me acertar com quem gosta de mim. Quando lhe encontro, está casado. Mas a nova vida não lhe parece agradar. Você não me diz nada, mas seus olhos, antes brilhantes e límpidos, agora mostram a escuridão da sua alma. Mas uma vez seguimos nossa dança. Nos repelimos e nos aproximamos, sem nada concretizar. E quando decidimos fazê-lo, suas atitudes contraditórias me assustam. Primeiro deseja transar sem camisinha, digo não, e quando ela estoura você chora copiosamente com medo do erro se repetir. O tranquilizo, mas por dentro estou aterrorizada. Eu deveria chorar, penso eu. Como explicarei a minha família, que estou grávida de um homem casado? Como explicarei às pessoas do meu trabalho que meu filho não terá pai? A pílula do dia seguinte é a opção. Nos afastamos mais uma vez. Como medo de nós, da vida. Ao tentar me afastar para sempre, você resolve se aproximar. Antes era só sexo, agora deseja minha companhia, quer conversar, almoçar, ir embora comigo. Mas não é hora. Penso lhe causar mais mal do que bem. Penso que me causa mais mal do que bem. Mas o destino mais uma vez, apronta. Um ano e meio após o basta. Agora estamos no mesmo andar. A posição da minha mesa impede que não lhe veja. Você me chama para almoçar e eu como se nada tivesse dito, como se nada tivesse acontecido, simplesmente o sigo. Receosa, com medo de mim, de você, dessa relação de gato e rato e rezando para que esse ano passe rápido e eu não corra mais o risco de lhe ver...

LUCILA GRACINDA
Enviado por LUCILA GRACINDA em 08/09/2013
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