PERDÃO -II

Podes me dizer: " Pensas que é fácil perdoar, sofrendo o que sofri, pela perda que sofri?"

Jamais diria que é fácil, Amigo meu. Seja como for, tenho passado a vida a purgar minha "partida" de ti, tenho passado a vida a teu lado, dos modos possíveis, tenho aceitado a solidão como meu pão obrigatório, tenho tentado compreender e aceitar, com humildade, a presença das tantas mulheres que te amam... Isso tudo é pouco? É muito? Não o sei, tem sido o meu necessário porque nunca, jamais, deixaste nem deixas de estar em mim, mesmo quando eu naquele outro compromisso que não há, há muito.

Julgas, talvez, que eu pretenda uma volta. Não, porque o mundo e a vida não voltam; essencialmente, por causa das lealdades minhas a seres de tua vida, lealdade que sabes; também porque eu não poderia, se tudo nos fosse possível, ser a mulher que te conviesse, a mulher de que precisasses no dia a dia dos dias. Eu o sei, e com que dor o sei. Talvez o tenha sabido sempre.

Então, que quero? Antes de tudo, o teu perdão pelo meu "abandono" de há tantos anos, por outro cuja chegada também constituiu um grande mistério em minha vida - O QUE NÃO É MISTÉRIO EM MINHA VIDA? Pobre deste outro, se soubesses o que foi feito da vida dele...

Faz um esforço para compreender os meandros da minha vida, de como a vida inteira tenho me esforçado para compreender e aceitar os meandros da tua vida. Perdoa-me, aceita-me, antes que seja tarde demais, antes que o tempo nos acabe para a vida neste mundo. Perdoa-me pelo que não tivemos o direito de viver. Sei que pedir-te que me restituas o amor que me tiveste, puro como na origem, é pedir o impossível. Ouso pedir: restitua-me o amor que te for possível, que neste tempo é quase só sinônimo de perdão. É quase só sinônimo de perdão. Nesse "quase" a vida ainda que lhe possa caber.