Monólogo (parte 2)

Como uma situação desta pode ser resolvida? Por um lado tu estás enraizado no dever de não causares o sofrimento que tanto te angustia em causá-lo aos teus por amá-los assim e, desta forma, deves trazer-lhes a paz na oferta do amor que lhes é devido. Por outro lado, não sabes sequer se te sente, o outro coração, da mesma forma que sente o teu por ele. Áh! como angustias tanto o teu peito, como fazes o teu coração sofrer tanto... Por que não consegues virar a tua página? Eterno ficará, por acaso, esse teu sofrimento? Se assim o for, pesado será, então e cada vez mais, esse teu fardo. Prepara-te e, por isso, cuida para que em momento algum seja tranferido para aqueles que te são tão queridos alguma parte desse teu peso, incluas aí, também, o outro coração, pois que outro coração poderia suportar um coração prisioneiro de si mesmo, senão, também, pela mesma angústia da impossibilidade de uma felicidade que fosse plena.

Sei que muito te dói a persepção de que pode ter havido, em algum momento, após tão longa e paciente espera, essa tão especial ressonância entre teu coração e o outro coração sem que tiveras tido a suficiente coragem de te revelares. Mas, compreende e não tenhas tu a impaciência dos tolos. Vê se as necessidades que tem o outro lado se não são maiores que as tuas. Vê se os impedimentos que tem o outro lado se não são tão maiores que os teus. Que tu reflitas, então: como podes concluir daquilo que não sabes? Não terá sido resultado de um momento de grande fragilidade da outra parte isso que te levou a pensar que tal vibração fosse da mesma natureza que aquela que faz teu coração vibrar? Que toda afinidade encontrada não passara de uma vã união de gostos, e não de uma profunda coincidência encontrada entre os valores residentes na tua e na outra alma? Não acreditas que te enganastes tanto a ti mesmo, disso sei. Olha, pois, talves não era chegado o momento. Aquele doce e profundo olhar que te desnorteou e que guardas no peito atormentado tanto quanto o calor dos inocentes abraços que te houvera trazido tanto alento, talvez tenha sido uma simples brisa despretensiosamente soprada a esmo sem o significado tanto esperado por ti. Ou tudo terá sido considerado pela outra parte um mal tão grande que tenha que ser cortado pela raiz? Sei que por mais confuso que possas estar, assim não o consideras. Será, então, que é possível que o que bate no teu peito seja um amor tão grande e verdadeiro como nunca em ti haja havido?

Sabes muito bem e já há muito esperimentas esse saber: a impossibilidade de uma sublime união dessas tão mais sublimes vibrações é fato concreto. É a espada que trazes fincada no teu coração e que se tirada morre-se. Aconselho-te, então, que tua reflexão seja a mais profunda que possas construir. E, assim, venhas encontrar o melhor caminho. Entretanto, há que ter o conhecimento de que da outra parte existe a mesma natureza de percepção, essa que faz teu coração bater forte. Tem tu, portanto, a certeza de que o outro coração oscila parecido com o teu e, assim, terás condições de avaliar teu caminho de forma mais correta. Digo a ti que percebo não haver força maior que aquela gerada pela oscilação harmônica de dois corações.