TESTEMUNHO DE MEU TEMPO

Grato pelo estímulo para que continuemos a compartilhar os valores que amealhei no decorrer do tempo. Pobre de mim, ao relembrares a situação efêmera de que fui deputado estadual constituinte, de 1987 a 1990, então 5º suplente da bancada do PMDB, investido no mandato. O deputado, essa ilustre figura representativa, neste Rio Grande de Deus, é apenas um “guaipeca rosnando nas bombachas do governador...”. Digo isto como alegoria, porque é esta autoridade pública que tem a chave do cofre para atender às reivindicações populares. E o eleitor – após os anos de chumbo e o resgate do valor Liberdade, assegurado o resgate da Democracia – quer é a realização de suas aspirações e, a par de alguma dedicação à causa pública, se resolve com a aplicação de muito dinheiro... E o chefe do poder executivo só prestigia o parlamentar de sua corriola, retribuindo favores e fortalecendo politicamente o deputado que ele deseja fazer poderoso... É o jogo prático do “dai a cada qual o que é politicamente devido...”. Eu nunca soube fazer esse jogo de pedir e ganhar: o jogo da troca de favores, esquecendo deveres supostamente éticos... E novamente, pobre de mim, continuo sendo apenas um homem de ideias, embebido de sonhos, liberdades e desejos de mudar o mundo em que habito. Acho que faço mais no Facebook e nas redes sociais, do que estar a conviver com ações negligentes e a corrupção endêmica. Cumpro minimamente a minha parte: alertar para o embuste e os cotidianos malfeitos, como convém a um homem de ideias e valores de pátria grande. Pelo menos, terço armas pela fortaleza de princípios, tentando minimizar a omissão. Em verdade, a palavra é apenas um relato sobre a realidade...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/4455101