Meu amigo Amado
Desde a última carta que lhe enviei pelo correio eletrônico da semana passada, penso que algo ficou escondido nas entranhas das esburacadas casas da bendita rua Um, onde os pardais fazem ninhos nos beirais e o tico-tico dorme de bruços. Meus pensamentos enrustidos não saem daquela ruela, isto é uma tortura mental e física que preciso extirpar de vez dos meus intrincados afazeres cotidianos e domésticos: lavar pratos e cuidar da minha cadela perdigueira, Maria Rita da Silva Garanhuns. Seu pedigree comprova a pureza racial da espécie, assim sendo, merece de mim, uma atenção especial... que luxo!
Tenho pensado seriamente sobre aqueles mortais transeuntes do pão nosso de cada dia. Na última vez em que estive por lá, aquele povaréu indo e vindo – os ditos elefantes, pareciam escamotear o meu cérebro já dilatado de tanto pensar coisas mirabolantes e até estafantes sobre todos eles ao mesmo tempo. Imagina você que, na minha cabeça desmiolada, todas aquelas criaturas caminham para lugares pré-definidos e, que, cada uma delas é, na verdade, um ente isolado dentro daquela massa obtusa e galopante pois, cada um de nós guarda em seus “bordados”, uma história diferente e mal contada. Veja que coisa lúdica: uns trotam (no bom sentido) para a morte sem nem ao menos saber que o amanhã pode ser tarde demais para suas realizações mais urgentes e intempestivas, outros seguem encafifados para as diversas igrejas a procura do perdão dominical de coisas que nem são pecados que se deva confessar com um reles coroinha de fim de semana, outros tantos (os desprevenidos) perambulam para caminhos tortuosos ou seja: apenas vagam como ondas de miragem – se pegar, pegou. Tudo isso me leva a crer que algo está realmente errado: não sei se sou eu (ou eles) a ovelha negra da história. Isto realmente é muito doido para mim, às vezes tenho vontade de gritar pra todos eles: porra, se vocês querem continuar cegos que se danem! O problema é que eu uso óculos. Assim não grito e tudo fica como está ou como deveria ser.
Eh, meu amigo, acabo de decidir! Vou me mudar para a rua Um de mala e cuia. Tomara que me confundam com um Duende e eu possa ser libertado dessa minha agonia, mas se me confundirem com o Saci-Pererê terei as duas pernas quebradas na primeira piada que fizer e, certamente, um túmulo com os seguintes dizeres: aqui jaz um sonhador que queria mudar a história de uma certa rua desbotada e de poucos recursos.
BSB, 20/08/13
Um grande abraço...