O amor deixa de ser amor

O amor não acaba assim, não pra ser colocado na estante do lado do santo de mármore e esquecido. Ele deixa de ser, para existir sendo de outro jeito. O amor deixa de ser amor para se tornar uma pancadaria interior, com o coração esmurrando freneticamente o estômago. O amor deixa de ser amor pra virar uma busca sem fim de significados que não existem, numa conversa que não tinha – nem tem, ou nunca vai ter – haste nenhuma de sustentação. O amor deixa de ser amor pra virar uma música, pra virar uma procura de algum filme que nos convença que vai acabar tudo bem. O amor deixa de ser amor pra virar loucura, tristeza ou outro amor. O amor vira bom dia, eu te amo ou um some daqui! Torna-se uma saudade honesta, ausência de corpos, uma sala sem móveis, qualquer coisa boa ou ruim. Às vezes o amor não acaba, só tira férias e volta ainda mais lindo. O amor vira um livro. O amor somos nós com os olhos repousados numa parede branca, pensando por trinta minutos no começo, meio e fim. O amor deixa de ser amor pra virar três pontos no fim da frase. O amor deixa de ser lágrimas por um para ser sorrisos por outro. O amor não acaba, pode ser vírgula e intervalo, mas nunca alcança o final. O amor deixa de ser amor pra ser um cheiro que nos pega de surpresa, um sorriso bobo por coincidências ordinárias da nossa rotina. O amor deixa de ser amor pra virar detalhes que o resto da vida nos revela, dia após dia. O amor deixa de ser amor, e às vezes se torna algo muito mais bonito que só e apenas amor.

Leo Freitas
Enviado por Leo Freitas em 16/08/2013
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