O DEDO POÉTICO MATERNO

Estimada poeta-original! Não sei se isto importa, mas não me agrada, como analista, o título da plaqueta: "Pétalas de Poesia". A titulação está urdida num lirismo convencional, muito derramado para um conjunto textual que não é todo no gênero poético, e que contém modalidades formais em PROSA e VERSO. Teria sido a autora de quatorze anos quem teria denominado o conjunto como tal? Não teria a proposta textual – como se fora um apetitoso bolo de aniversário – o dedo poético materno fincado no glacê, como fazíamos em nosso tempo de criança? Intuo que uma autora adolescente dificilmente ornaria o conjunto textual com estas “Pétalas”, no entanto, neste nosso mundo de invenção, tudo é inusitado... E o novato sofre a influência dos seus afetos de convivência cotidiana. Não é menos verdade que os espíritos dos poetas, em qualquer idade, são antigos e sábios por ancestral instinto, daí a INTUIÇÃO do Belo... Conheci, nos últimos quarenta anos, autores juvenis que parecem já haverem nascidos velhos, visto o conteúdo e apresentação formal de seus poemas, mesmo que inexperientes na aparência física. Dificilmente sabem explicar qual a energia qualitativa e quantitativa que se os assenhora na hora do nascimento dos versos... Portanto, no conjunto ora apresentado, nem tudo são poemas e, sim, seguindo a sugestão do título, só pra te instigar e à autora: o que temos são "Pétalas de Poesia e alguma Prosa"... Peço escusas pela intromissão, mas, a rigor, o texto proposto pelo autor só se reproduz como relação literária após a recepção pelo leitor. É neste que o poema (ou texto) vai se completar, estabelecer comunicação e produzir beleza, estranheza, alumbramento ou não, como peça estética...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

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