O Que Me Trouxe, O Que Levou, O Que Deixou.

Eu acho que te procurei em cada local que estive. Como se ao olhar para o lado, você estaria lá, me olhando com um sorriso de orelha a orelha. Ah, o seu sorriso. Ainda me lembro. Uma fileira de dentes branquíssimos e bem cuidados. Na verdade, sempre foi muito cuidadosa. Tão cuidadosa que isso se estendia para além de ti e passava para mim. Quantas não foram às vezes que me lembrou de tomar os remédios na hora certa ou algum compromisso importantíssimo que eu iria esquecer por falta de atenção? Acho que completávamos um ao outro. Você sempre precisava ficar atenta, sempre observadora e, eu, com esse jeito desleixado e esquecido, lhe obrigava a estar ligada quase sempre.

Não fosse por meras exceções às quais estava estressada ou nervosa demais para agir, diria que fez tudo no tempo em que ficamos juntos. Mas tive minha parcela também. Você era a minha guia, mas sempre fui seu apoio. Nunca fui tão bom em consolar, mas algo em mim fazia com que você se acalmasse e esquecesse o resto do mundo um pouco; acho que gostava disso também, não é? Era diferente quando te abraçava, como se meus braços se encaixassem perfeitamente no entorno de seu corpo e, você, encolhendo-se neles, parecia uma pequena criança indefesa e que precisava de cuidados. E eu cuidava. Sempre fiz de tudo para cuidar da melhor maneira possível. Ainda mais porque era o único que via esse teu lado tão vulnerável a qualquer coisa. Apenas despia-se de sua armadura em minha presença, mas nem assim deixava de ser forte. Aliás, pra mim, você sempre foi a mais forte.

Nunca fui um cara muito romântico. Demonstrava apenas o que estava ao meu alcance. Isso sempre foi o suficiente porque, ainda bem, você não me cobrava declarações como essas menininhas fazem por aí. Tinha meus momentos. Dizia algumas palavras bonitas. Você nunca duvidou dos meus sentimentos. Você foi a única pessoa que nunca duvidou de mim. Tenho sentido sua falta. Às vezes sinto raiva, talvez não aceite bem a ideia. Não consigo entender o que aconteceu conosco e parei de pensar nisso faz algum tempo. Não tenho certeza se te superei, mas sei que prometi escrever quando algo tivesse acontecido. Prometi para mim.

Não importa o que eu fale, saiba que sempre me lembro de você. Acho que são as pequenas coisas que preenchiam nosso dia a dia. Ah. Voltei a fumar. Lembro-me da sua luta desenfreada para que eu largasse o vício. Durante aqueles anos até que deu certo, mas me tornei ansioso novamente e a tremedeira nas mãos pela abstinência havia começado a incomodar. Mas não se preocupe, não voltei a beber; pelo menos não tanto quanto antes de te conhecer. Às vezes me encontro com o Jefferson para conversar e inevitavelmente tomamos umas e outras, apenas para acompanhar o ritmo da conversa. Não consigo mais ficar bêbado tão fácil, devo ter criado resistência, sei lá.

Ah. Consegui um novo emprego também. Não é lá grande coisa, mas agora estou fazendo alguns trabalhos como fotógrafo; tenho escrito alguns textos também para um blog e, aos pouquinhos, estou fazendo aquele livro que você sempre me incentivou a escrever. Publicarei com pseudônimo. Não quero que saiba que fui eu. Terá um pouco de ti e de mim. Se ler, vai se identificar. Sempre foi muito esperta. Não sei sinceramente o que viu em mim, mas agradeço pelo o que viu. Sou uma pessoa melhor. Você é responsável por eu ser forte e também um pouco infeliz. Mas tudo bem. Acho que estou aprendendo a lidar com a situação. Logo eu, que nunca soube lidar com nada, estou aprendendo.

Tornei-me mais responsável e agora consigo me manter bem sozinho. As contas todas estão em dia e não gasto mais do que preciso. Viver com você foi uma experiência mais do que gratificante. Depois de ti, nunca mais olhei as pessoas da mesma maneira. Acho que gosto mais delas, mas... Só de observar de longe. Você me fez ser observador. Fez com que eu me tornasse cuidadoso da mesma forma. Não sei se é coisa sua ou se é minha, sabe que sempre fui de afanar os costumes alheios.

Bem, estou sem ter o que dizer. Acho que vou à varanda fumar mais um cigarro. Não prometo escrever novamente. Não quero mais ter tempo, porque tem doído me fazer pensar em você nos tempos vagos. Agora seguro melhor o choro e aos poucos vou retomando a ser o cara que eu era, mas ainda assim, você não sairá de mim. Eu sei disso.

Obrigado por tudo que me deu. Espero ter dado para você tudo na mesma intensidade. Quem sabe quando nos vermos se vamos nos reconhecer. Adeus, minha querida. Foi um prazer te conhecer.

Meu Deus... Que saudade...

A H
Enviado por A H em 03/08/2013
Reeditado em 04/08/2013
Código do texto: T4417161
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.