Monólogo (parte 1)

Tua luta já há muito o fazes. Ocultas de ti mesmo, nessa tua luta, o que se passa em tua alma, porque se te configura uma situação para a qual não se encontra razoável caminho. Talvez, um caminho seja isolar num cantinho de ti, isso que se poderia chamar de um “desbalanceamento emocional crônico”, até que o tempo construa uma cicatriz como uma lápide capaz de não deixar algum dia, de alguma forma, alguma ponta de tal emoção emergir, pois te lembra: estás, assim, proibido de voar. Na realidade, isso tu já tens feito ao longo de todo este tempo. Só não se sabe, no entanto, se tal cicatriz virá a ser suficiente para conter o crescimento dessa tua efervescência.

Hoje, seguras, com forças que tentas adquirir todo dia, um extravasar que se aponta no horizonte e que, de todo modo, deve ser contido. Situações favoráveis a aceitação de tal extravasamento são passíveis de surgir, não se sabe. No entanto, um exercício duro e contínuo deves empregar para que não seja causada a interpretação de que possas estar sendo oportunista, como se o desejo de viver tudo isso fosse o de satisfazer apenas ao teu “eu” tão particular, e não visses a delicada vulnerabilidade do outro lado. Além disso, todo o cuidado deves ter para não machucares tu a quem tanto estimas e prezas. Sei que não conseguirias passar novamente por todo um sofrimento do qual carregas tão profundo trauma, e que te causa grande angústia o pensar na possibilidade de fazeres alguém passar pelos sofrimentos que tu já passaste.

Dize e repete a ti mesmo, todos os dias: é impossível deixar crescer esse sentimento proibido e ao mesmo tempo tão maravilhoso. Maravilhoso não porque seja proibido. Mas, porque te faz vivo a cada instante da vida e que parece não poder vir de mais nenhuma fonte. Impossível deixar crescer porque as circunstâncias são extremamente complexas, uma barreira quase intransponível, para que uma solução de pouco sofrimento seja possível de encontrar. No entanto, o maior temor com o qual tu vives é constatar não haver mais tempo de ver a felicidade naquele rosto da maneira que tu gostarias de ver, ou de encontrares alguma solução que pudesse te produzir uma gota de felicidade, agora, muito intimamente, mesmo que seja a realização de um sonho concretizado apenas no imaginário. Um sonho de constatar que as vibrações que tu sentes no coração são as mesmas que vibram naquele coração também.