A inflação em Quadradópolis

A INFLAÇAO DE QUADRADÓPOLIS


(Miguel Carqueija)


Quero propor uma reflexão que pode lançar alguma luz sobre o fenômeno inflacionário. Vamos supor, só para fins de argumentação, que no Reino de Quadradópolis, no dia 1º de janeiro de 2050, os salários estejam todos em X e os preços em Y, sendo X uma variável para representar cada salário de cada empregado em todo o país, e Y, cada preço cobrado em cada lugar, para qualquer mercadoria. Digamos que a inflação, na data referida, esteja exatamente em 1000%.
Agora vamos supor que, cerca de um ano depois, por efeito de qualquer mágica econômica, os preços e ordenados em Quadradópolis estejam rigorosamente iguais.
Atenção para esta pergunta: qual é a inflação em Quadradópolis, em 1º de janeiro de 2051? Quem respondeu “zero”, a meu ver, errou redondamente. Ela está nos mesmíssimos mil por cento. É uma inflação congelada. Se os preços e os salários não mudaram, também não mudou a situação dos consumidores: enfrentam o mesmo custo de vida com o mesmo poder aquisitivo. Ora, para que não fiquem dúvidas, vamos fazer o tempo correr para trás. A primeira data mencionada passa a ser futuro da segunda. Portanto, se não há diferença, a inflação é rigorosamente igual. Conclusão: a inflação só pode diminuir se os preços baixarem em relação aos salários.

(Rio de Janeiro, 15 de julho de 1990)