RAZÃO MAIOR - Carta aberta

NA MANHÃ E INÍCIO DE TARDE DESTE DOMINGO, 28 DE JULHO DE 2013

Amigo meu: se eu não tivesse sentido, de um modo misteriosíssimo, desde o nosso primeiro encontro há tantos, tantos anos e até agora, que havia uma razão forte, especial, para o nosso encontro, eu não teria pensado, naquela noite longínqua, enquanto me dirigia para ti “Que seja tudo para o nosso bem”. Digo-te isto, neste instante, isto que jamais, jamais te disse, em momento nenhum.

Nunca, Amigo meu, te hei esquecido nem abandonado, nunca, apesar de aparências em contrário. Nunca, nunca te hei abandonado e minha vida tem sido o testemunho vivo disso. Por ti, por este afeto profundíssimo a ti, fui aos poucos fazendo a transmutação do meu amor por ti, a transmutação daquele amor de urgência e de necessidade de presença e de corpo. Os fatos, as outras presenças na tua e na minha vida me foram, ao longo desses infindáveis anos, mostrando-me cada vez com maior clareza, a necessidade dessa transmutação.

Deixei que se abalassem alicerces da minha vida interior e exterior por este meu afeto imensíssimo a ti. Tenho estado sempre perto, sempre junto, a despeito da sempre distância física que nos tem sido imposta desde sempre. Não te responsabilizo pelo abalo dos alicerces da minha vida. Eu sou a real e grande responsável por isso tudo. Só te peço a compreensão possível, a aceitação possível, o crer na verdade do meu tão fundo afeto por ti.

Por afeto a ti, tenho aceitado e buscado amar, ao longo dos anos, todas e cada uma das pessoas que te amam e a quem tu amas. Nem sempre tenho sido presença benquista a todas elas, eu o sei e tenho me curvado a isso, tenho tentado compreender suas razões, em certos casos, mesmo sabendo da impossibilidade para algumas delas de qualquer sentimento semelhante com relação a mim.

Creio ser a presença do Papa Francisco, ainda neste início de tarde em terras brasileiras, a razão para ousar escrever-te esta carta, via Recanto das Letras. Não tenho como enviar-te esta carta, senão por este caminho, por este “correio”. Perdoa-me, também, por isto. Também por isso, perdoa-me.

Que ouso pedir-te? Nada que já não tenha pedido mil e mil vezes: O perdão por ter partido, há tantos anos, para outro destino, por ter traído, por razões que não alcanço, (certamente razões insondáveis, de fundíssimo mistério), a esperança tua e minha para nós. Esse meu eterno pedido de perdão a ti não significa que eu renegue as outras presenças em minha vida, nenhuma delas. Jamais as poderia renegar. Tu não podes imaginar o tamanho do preço que tenho pago por isso, por nossa presença em mim, ao longo dos anos. Se fosse eu apenas a pagar por isso, ainda daria apenas tudo por justo, mas outros têm pago, comigo, parte da responsabilidade que é quase totalmente minha e pelo horror disso não tem havido dentro de mim nenhum auto perdão possível.

Acima de tudo te peço que a minha presença em tua vida, além de perdoada, não seja mais fonte de dor, de sofrimento, mas, que também não caia no esquecimento, em suma, que não seja, que não tenha sido em vão. Preciso muito, muitíssimo, mais do que eu possa dizer ou calar, da restituição do teu afeto por mim a mim e isso, presença no relicário mais íntimo de nossa alma, tua e minha; acima de tudo sonho com a restituição do teu afeto mais fundo de ti a ti mesmo, a ti, ser tão especial. Quando chegar o meu dia de partir deste mundo (espero que ainda tarde o necessário), que eu possa partir com a certeza de que te restituíste a ti mesmo. Com a certeza de que te restituíste plenamente a ti mesmo. Que assim seja!

Quanto às mais coisas que eu desejaria (e precisaria) dizer-te, urge que eu as cale, no meu mais fundo âmago, como sempre. Tem um santo domingo.

Zuleika.