CARTA PARA MINHA MÃE

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Ah...mãe! Enfim hoje, escrevo para você.

Não é fácil, pois, mesmo reconhecendo todas as suas qualidades, fiquei presa

nos laços da infância que não gosto de lembrar. Lembrança infeliz!

Hoje entendo. Racionalmente entendo. Sei que você só me deu aquilo que tinha para dar. Ninguém pode dar aquilo que não tem.

Eu, porém precisava mais: carinhos, abraços, colo e afagos que não recebi e me fizeram imensa falta. Essa carência cavou valas profundas, muitas das quais não consegui mais transpor.

Olha mãezinha ...sei que não posso, não devo e não quero culpar você.

Você também é resultado do que lhe imprimiram na infância e na vida.

Assim é!

Meus filhos com certeza também devem ter muitas reivindicações a fazer; porque apesar da enorme vontade de acertar, devo ter deixado pelo caminho, muitas lacunas não preenchidas.

Hoje, quando olho para você, ainda preciso me esforçar para demorar meus olhos nos seus. Não existe a doce entrega, mas, o receio de novas repressões.

Tenho muitas coisas para lhe agradecer: cuidados, acompanhamento, presença constante. E eu agradeço, inclinando meu coração.

Se aos meus olhos sugiram muitas falhas... sei que na sua concepção isto não aconteceu. Você sempre se orgulhou da maneira enérgica que nos criou.

Que assim seja!

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Zélia Nicolodi
Enviado por Zélia Nicolodi em 06/04/2007
Código do texto: T440069
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