UMA TERCEIRA VEZ, MARGUERITE DURAS
Na manhã de domingo, 21 de julho de 2013
Marguerite, como eu queria ter sido vista e vivida pelos homens, desde meu irmão, como uma igual, caríssima. Doloridamente, nunca o fui, jamais. E, no entanto, sei amar; fui, às vezes, anjo para alguns, outras vezes, à minha revelia, lhes tenho sido algoz. Maria do Carmo sou e em razão de um estranhíssimo destino, Carmen, também.
Há mais de uma década tenho tido um anjo da guarda encarnado, uma mulher, dedicada, fundamente, a mim e a minha mãe. Neste presente tempo, de quase nenhuma força, tenho eu que lhe (s) ser o anjo da guarda. Queria ter tido ou ainda vir a ter, por um dia que fosse, um anjo da guarda encarnado homem, Marguerite. Deve havê-los, ainda que não para mim (a exceção, meu pai, se foi deste plano há muito, muito tempo). A culpa deve ser toda minha. Eu acho, hoje, que eles sempre me viram como um ser forte demais para precisar de um anjo da guarda homem, ainda que por um único dia. Deve ter sido isto. Não tenho como culpá-los, eis a verdade cristalina dos fatos.
Forte, eu? Se não tive forças, nunca, para lutar por minha vida... Se abdiquei de mim por covardia, por acomodação, por jamais ter visto, claro, o meu verdadeiro rosto... Culpar alguém pelo quê, Marguerite? A verdade é que, vivendo a pagar muitos preços, não pude, não consegui, não lutei para pagar os preços da minha própria vida, o preço da vida minha, da vida que poderia ter sido minha e nunca foi.
Em verdade, até por amor e dever para com minha mãe, preciso aprender, com urgência, a ser o meu próprio anjo da guarda encarnado. Que estranha linguagem para falar contigo, Marguerite! Que estranha linguagem; desculpa, por favor.
Meu abraço grande.