16/05
A noite é fria e o mundo parece vazio ao meu redor. Os pequenos buracos da minha alma transbordam gelo seco. Não sei onde foi para meu coração, sei apenas que não está mais no meu peito. Meus olhos negros e opacos acompanham, insones, o silêncio que vem e vai enquanto meu mundo desmorona baixinho.
Se tudo tem que acabar, assim de uma vez, que acabe. Se o mundo tem que ser silêncio hoje, que seja. Se a solidão é minha melhor companhia, que esteja aqui então. Só não me peça brilho nos olhos quando a noite terminar e novamente for dia. E não me peça jamais o branco dos dentes e a curva dos lábios. E jamais, jamais me olhe com seus olhos tristes outra vez, engula sua tristeza como eu engoli minha esperança, minha alegria, meu amor. Jamais me olhe outra vez. Sua alegria me enoja, procuro ao meu redor apenas reflexos da minha dor, muda. Jamais fale comigo de novo, meus ouvidos queimados não suportam o som da sua voz. Nunca mais me toque, pois se renasci, foi com a pele áspera e dura. Não se aproxime de mim outra vez, pois a cada dia que me refaço das cinzas sou mais opaca, mais enojada, mais áspera, mais dura, mais fria. Menos sua, e menos minha.