Mais do Mesmo.

Eu tentei começar um texto diferente, falei do meu medo de Domingo à noitinha, quando o Sol quase dormia e tudo que restava era o silêncio da rua, debaixo de um céu laranja escuro. Depois contei como eu gostava de sexta-feira à noitinha, quando o Sol quase dormia e tudo que restava era a agitação e dança de todos os corpos se preparando para viver mais uma noite feliz de suas vidas. Aí eu travei. Eu ainda queria encaixar uma frase que dizia que toda a graça do mundo acaba pra dar lugar ao recomeço de outra graça de mundo, e não consegui. Eu não consigo terminar algo que não seja pra ele, que não o vá fazer sorrir e pensar em como eu sou o único que ainda faz essas coisas pra ele depois de tanto tempo. Eu não consigo gastar o meu dom pequeno, minha única parcela de utilidade no mundo, com outra coisa que não seja: ele. E agora é tão sem propósito porque nós fomos embora de verdade. Veja bem, depois de cinco meses ficando mais ou menos, a gente deixou o corpo um do outro pra sempre. E cinco meses são cento e cinqüenta dias registrando as lembranças mais bonitas da minha vida. Como lidar com o abismo de um novo parágrafo? Eu e toda minha tristeza resultada do seu ir, eu todo o blues que ficou nos cantos de todas as casas verdes. A escova no armarinho do banheiro que não existe mais, os minutos sem verbalizar os olhares, a cama mais quentinha do mundo, todo o riso da nossa vida que apagou como um abajur velho que nunca mais vai acender. Aceitei quietinho a partida porque é isso que a gente faz quando estraga algo que não é nosso, larga lá e vai saindo de fininho pra fugir pra sempre da culpa. E agora, sem amanhã, eu largo toda minha vida nessa cidade pra começar do zero em outro lugar, por causa da única pessoa que eu confiei e que soltou minha mão sabendo dos meus traumas pra mimar outra pessoa. Quem sabe um dia, se talvez a gente se encontrasse... Mas um dia é sempre longe demais e nunca chega nesse roteiro da vida real. Agora em todas as valetas eu pego uma pedrinha pra ir construindo minha base destruída por ele. E se um dia não houver reencontro, mesmo de cor de café, vai haver luz e felicidade no caminho. Porque é inegável que nós merecemos toda a felicidade do mundo, ainda que distantes. Que a saudade vire rotina, que a gente sempre volte, que nosso amor seja uma estrada sempre de mão única. E se não for de fato, na minha fé será pra sempre.

Leo Freitas
Enviado por Leo Freitas em 16/07/2013
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