ZEBEDEU E JACUNDÁ (Carta à uma amiga)
Querida Jô!
Um dia, quase caí de costas, quando morava naquela outra casa que você conheceu! Imagine que nunca pensei que um aparelho de som pudesse falar sozinho! Pois foi o que me aconteceu!
Numa segunda-feira minha faxineira chegou, toda eufórica, dizendo que havia comprado um CD, no camelô da Quadra Central, que o cara era muito amigo dela e que pagou “cinco real” por três discos! Uma pechincha, minha filha! Uma pe-chin-cha!
Ela, por não possuir o tocador de CD, lembrou que poderia ouvir lá em casa, quando fosse trabalhar, na segunda-feira. Pois foi o que aconteceu.
Mal chegando foi tirando as coisas de dentro de uma mochila meio surrada e, lá do fundo, misturado com calcinhas, “OB”, batom, caneta, pente e essas coisas que toda mulher usa para encher a bolsa, retirou um CD dizendo que aquele era da dupla que mais gostava: “Zebedeu e Jacundá”!
Quase tive um troço! Pois, se há alguma coisa de que eu não goste, em se tratando de música, é a tal da porra da música sertaneja.
Sertaneja, merda nenhuma! Isso é música urbana! Sim! Música urbana e da pior qualidade! Dois cornos que moram em plena cidade, resolvem falar das suas cornices se esgoelando, juntos, com vozes de falsetes e mais esganiçados do que gansos com gripe suína... Puta que o pariu! Cadê meu advogado?
Não tive outro jeito! Por educação e condescendência com a moça que não podia ter, em casa, o seu aparelhinho de som relevei a desgraça que estava à minha frente, quase a invadir os meus ouvidos, e fui saindo de fininho para o meu quarto... Lá estaria a salvo do estupro que estava prestes a sofrer no útero do meu cérebro...
Infelizmente, com um aparelho de 2.000 watts, não era possível não ouvir toda aquela disenteria cifrada embrulhada em sons metálicos de guitarra desafinada.
Fechei a porta do quarto e ainda continuei ouvindo aquela porcaria que me dava um tipo esquisito de náusea.
Finalmente, acabou-se a tortura e voltei à sala, encontrando a faxineira sentada no sofá, com uma fisionomia angélica, como se estivesse manifestando a sensação maravilhosa do final de um duplo orgasmo nascido do “Ponto G”.
A moça não sabia como fazer para retirar o CD da máquina. Então, delicadamente, aproximei-me e apertei o botão "eject".
Amiga! Quase caí de costas! Você não vai acreditar no que aconteceu! Assim que acabei de retirar o CD, quando já ia desligar o aparelho, de dentro da gaveta que estava se recolhendo, saiu uma gosma esquisita, como se fosse uma cusparada. Meio entre os dentes, ainda ouvi o aparelho de som falando pra mim: "Fee-laa-daa-poooo-taaaaaa!!!"
Felizmente, menina, hoje é sábado e já estou tomando a BR-020 em direção ao Plano Piloto. Vou purificar os ouvidos lá no Clube da Bossa-Nova, uma das coisas boas de Brasília! Lá não entram duplas como essas para cantar fossa de corno!
Como diz a canção de lá, “...aqui não se curte fossa. Harmonia é coisa nossa. No auditório do SESC, é o nosso Clube da Bossa”...
Beijos, lembranças a todos e até breve!
Seu amigo Amelius.
Sobradinho-DF
26-04-2010