Te procuro
Às vezes procuro teus olhos nas ruas melancólicas de um fim de tarde nublado. Às vezes ainda sinto tua presença no marasmo de uma manhã chuvosa na cidade.
E tento te encontrar sob escombros, cascalhos e ruínas. Tento te encontrar nas janelas mais altas dos apartamentos. Tento te encontrar por trás de cada sorriso falso de outrem. Tento te encontrar entre as notas das melodias, entre silvos e lufadas da noite, entre os olhos e as bocas das pessoas que vem contra mim na movimentada avenida. Tento te encontrar nos espaços escuros do céu entre uma estrela e outra, na profundeza suave da fumaça de um cigarro amargo, nos riscos que as ondas deixam na areia da praia, nas erosões da lua, nas brisas, conversas, silêncios, solidões, sonhos ou noites de insônia.
Tento ainda te encontrar nas nervosas multidões, através de rostos e histórias. Te procuro em cada rua, a cada passo. Te procuro já sem esperanças, mas nunca paro, porque entre todas as vezes que te procuro, ocasionalmente percebo que não é a ti que quero encontrar, e sim um pedaço de mim que levaste contigo e que ainda não me acostumei a viver sem.