Carta a Henri Cabilio(Portugal)

Amigo:
Saudações cordiais.
Tenho lido seus votos gentis.Obrigada.Realmente, a noite de ontem , na Lagoa do Nado, foi muito interessante.
A Prefeitura Municipal de Belo Horizonte semeou desses espaços culturais em pontos estratégicos.No S.Bernardo, por exemplo, ministro uma oficina de Contos.
Quem convidou-me,já há algum tempo, foi o Poeta e sociólogo Ricardo Evangelista, responsável pelos recitais.Com ele e a esposa, a cantora e arranjadora Sueli Silva, é que fui a Montevidéu para o VIII Encontro ABRACE.
Lá chegando, porque não tínhamos muitos Reais para trocar pelos Pesos que valem cerca de dez vezes menos, fomos nos alojar em uma deliciosa hospedaria, alegre, cheio de jovens de todos os países, que me adotaram como a uma "tia"- e foi muita troca de Línguas,tudo alinhavado pelo espanhol, umas palavras em inglês e ou francês.Como apenas leio e escrevo e não tenho com quem falar aqui em outro idioma, no início, houve uma travada geral, mas logo, pudemos nos comunicar tranqüilamente.
Ando com muitas ocupações, inclusive um livro chamado "Original"que é um de artistas apenas e suas produções (25), sob um tema:"A Forma do Pote Vazio", para entregar em abril.O convite veio-me de sua organizadora, a Regina Mello, poetisa e artista plástica,já com esta terceira edição.
Mas tantas ocupações retiraram-me do fundo do poço de prolongado luto.A ida ao Uruguai foi uma aventura plena e neste anos,farei sessenta anos:depois de perder o início do VIII Encontro Abrace Internacional,chegamos lá dia 21, no Dia Internacional da Poesia.
Convidada a tomar a palavra,falei sobre essa dama eternamente jovem ,a poesia, em Português e mesmo assim, prestaram muita atenção.
No dia de meu evento Poesia é Ouro, recebi o título de Poeta Honoris causa para oito Países lusófonos, o que muito me honrou,pois, pelo sobrenome, bem se vê minhas origens.
Gosto de estar entre os jovens poetas, sequiosos de apreender (mais que de aprender, o que acaba acontecendo naturalmente enquanto amadurecem) e também de estar entre os poetas de mais idade, já vividos e seguros de sua missão maior, a poesia.Formamos uma casta , sagrada pelos deuses , mas nem sempre compreendida.No Brasil não existe a profissão de poeta.Nem de escritor, por exemplo:roteirista, relator, sim...
Ontem pedi a José Ênio, do UNIAC, que contasse sobre um impasse na morte do poeta Leão.Esse, conhecido nas noites,em bares,o espaço de eleição dos poetas notívagos, sempre distribuia e vendia sua poesia entre freqüentadores.Vindo de outro Estado, não tinha parentes aqui em belo Horizonte.Internado gravemente, os poetas amigos foram lá, assumir,qual uma família, essa passagem.
No óbito e registro, haviam-no colocado como "indigente". Depois, "artesão", já que ele vendia produtos entre mesas de bares.A poesia em seu espaço ínfimo e imensurável de um papel dobrado ou não.Os poetas protestaram."Não,proclamaram, protestaram: ele é Poeta".Poeta.
E foi assim que foi enterrado alguém que,segundoos amigos, era a própria Poesia.
Ao meu momento ontem, chamei "A Poesia pede Passagem".Ricardo Evangelista passou, com seu poder de artista , entre as cadeira, batendo palmas e fazendo essa chamada:"A Poesia Pede passagem".
Eu teria uma hora,parapresentar meu recado.Fôra munida de apetrechos:Vôo de penas, fios de lã, glitter,folhas secas trazidas do Uruguai:dos lindos plátanos...Mas modifiquei tudo.Minha poesia PREDIÇAO, que , no Encontro do ABRACE e meus 50 anos de Poesia foi apresentada com uma performance de Ricardo e a Música da Sueli, que eu pretendia mostrar, deixei-a para outra ocasião, pois obsevei que o querido instrumento de minha amiga não estava com ela.Reduzi a seleção, que faz parte de um trabalho inédito em editoração.
Na verdade, eu queria, já havia dito ao organizador, que se formasse uma roda de Poesia.E assim foi.As pessoas que queriam falar se inscreveram .Tudo correu a contento.Visceralmente, os versos escorriam da juventude.E havia uma contadora de histórias, D.Lis Monteiro, com mais de setenta anos.
Então, os polos da linha da vida ali estavamrepresentados.
No ABRACE , em Montevidéu, também a prévia foi com a juventude.Isso é missão;acolher e apontar setas para os espíritos que iniciam sua jornada por aqui.
Ah, amigo, soube que a primavera  eclodiu em Portugal e fiquei sentindo as vibrações distantes.Meu pseudônimo  para haikais é Haruko,que significa "Primavera" - e, realmente, tudo que cerca essa estação, atrai-me:borboletas e pássaros, as flores.

Uma vez,escrevi esta trova;


A primavera explodiu
em folhas e flores novas
quem fez tudo,ninguém viu
-mas as cores são as provas...

Tenho muita vontade de ir até Portugal.Correspondo-me com a Companhioa de Dança Contemporanea de Évora e sempre posto seus lindos cartazes de apresentações e espetáculos,intervenções.Escrevi uma poesia chamada "Dançar é escrever Com o Corpo"e lhes dediquei.Depiois outra, sobre "FLOW", a última apresentação do ano de 2006.Então, convidaram-me a escrever um texto sobre a dança.E agora,me avisaram que o "Cadernos de Dança 2",onde está inserida,já foi editado e virá pelo Correio.
Estou muito feliz.

Mande-me algumas poesias suas para eu postar no blog.Obrigada por estar sempre desejando sucesso a minhas empreitadas literárias.E quero presenteá-lo com meus livros,portanto,mande-me seu endereço completo.Noutro dia, o computador pifou e perdi um arquivo de endereços.Mantenha-me a par do que acontece em Literatura e arte aí na Terra de meus ancestrais.

Um abraço:
Clevane









O impossível
é imprevisível
só até acontecer
(Clevane Pessoa, em "Sombras feitas de Luz-Edit.Plurarts)
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