O melhor lugar...
Morando no subúrbio do subúrbio do subúrbio, as sensações de poluição visual me vem às centenas todos os dias. Para mim, que já trabalhou com Programação Visual durante 8 anos (fora o período na faculdade enquanto eu me formava) é uma verdadeira tortura vislumbrar a feiura da cidade de São Gonçalo sempre que saio. São postes inclinados cheios de fios, buracos (são verdadeiros buracos) que não merecem o nome de ruas, de onde saem carros de todo lado, lixo por todo lugar (não digo que não tenha lixo em outros lugares, mas isso não torna menos penoso o caminho), cachorros vira-latas andando soltos para cima e para baixo, de vez quando uma ratazana saindo do buraco do esgoto e poeira, muita poeira subindo das ruas mal asfaltadas e cheias de buraco. Dá vontade de não olhar para aquilo quando saio na rua.
A ideia de não olhar, de não ver tudo isso talvez tenha me feito criar uma mania de piscar os olhos, com uma vontade imensa de fechá-los (quem sabe para não ver), que ameaçava virar um tique nervoso e que graças a Deus está passando, mas isso é outra história.
Apesar de tudo isso ou por causa de tudo isso mesmo, eu gosto de São Gonçalo. É um município pobre, sem recursos, mas as pessoas são ordeiras e tem um sentimento de subúrbio, próprio de quem mora na periferia do mundo, que não as deixa perderem o ânimo e a esperança.
É claro que o fato de eu ter recebido um prêmio de publicação da minha biografia em livro dos artistas de São Gonçalo pela prefeitura do município, contou em muito para essa última observação minha sobre gostar de São Gonçalo. Mas enfim, é uma cidade muito grande, tem a 2ª. maior população do Estado do Rio de Janeiro e a maior concentração de casas num bairro da América Latina: o Jardim Catarina.
Já escrevi três textos de romance infanto-juvenis, ambientados em São Gonçalo: A mortalha das Sombras, Joana, a filha do Universo e o Menino Xadrez.
A minha casa fica no bairro de Amendoeiras que muitos chamam de Coelho, inclusive nos registros fica como Coelho mesmo. Trabalho em casa, com meu computador, com uma pequeno estúdio improvisado na área de entrada da casa, onde fica também o computador. Quando preciso de um espaço maior para as tintas e para as telas, eu saio do estúdio e vou para a sala, forrando um jornal na mesa. Trabalho escrevendo meus poemas e romances diretamente no PC, algumas vezes, raramente, escrevo num papel antes de digitar, aí uso a mesa da sala para escrever.
Não posso dizer que a casa seja bonita, não é. É cheia de buracos que a minha mãe faz para pendurar coisas e depois desiste; os buracos ficam. Temos uma cadelinha filhote (Anita) que fica, a maior parte do tempo, amarrada na sala e, de vez em quando, solta por toda a casa. Ela tem o lugar dela de fazer xixi e cocô, mas vez por outra, parece que esquece e lá vai a gente ter que limpar cocô e xixi no meio da casa.
O meu quarto fica bem na metade da casa e eu uso, fora dormir, para fazer algumas orações católicas e budistas e rezar o terço. Quando tenho que meditar, uso a sala afastando os móveis e ligando o CD de música no PC, porque o nosso som está com defeito.
Temos uma casa no segundo andar que ainda não está pronta e que foi construída há pouco tempo. Antes disso, havia uma goteira que caía por toda a casa quando chovia por infiltração porque não tem laje. Agora, pelo menos, isso acabou.
Os dias frios são melhores que os dias muito quentes que são a maioria. Gosto do inverno, aliás, nasci no inverno, em junho. Para tomar banho é ruim, mas isso é só um detalhe. Ficar enrolado na cama com o frio é a melhor coisa que tem. O café quente e as comidinhas quentes, como sopa e angu doce, por exemplo, ficam melhores no frio.
Gosto de passear nos centros culturais do Rio de Janeiro. O CCBB do Rio tem grandes instalações com uma claraboia bem no meio e um ambiente bom para pesquisa e entretenimento em arte com exposições de arte e uma grande biblioteca. É o lugar que mais frequento quando estou passeando no Rio. Também gosto de ir no Centro cultural dos correios que fica bem do lado do CCBB. É um ambiente também muito bom, com amplos espaços para exposições. Também descobri recentemente a Caixa cultural (bem grande) e costumo ir à Biblioteca Nacional e ao MAM e ao Museu Nacional de Belas Artes de vez em quando, mas esses são pagos e eu não posso arcar com tão dispendioso passeio muitas vezes.
Gosto de visitar o parque do Passeio no centro do Rio de Janeiro também, mas tenho ido poucas vezes ultimamente. O parque do Campo de Santana também é muito bom com todo o verde no meio da cidade de pedra; faz um bem danado. Em Niterói tem alguns parques em Icaraí e no centro; não são muito grandes, mas vale a pena.
Em resumo, os ambientes que eu gosto estão todos no Rio e em Niterói, bem distantes da minha casa, em São Gonçalo. Mas, enfim, como se diz, “não há lugar como o lar” e eu gosto da minha casinha de subúrbio bem no subúrbio, escondida no subúrbio. É o melhor lugar, para mim, para se trabalhar, morar e viver...
(Carta dirigida à oficina de escrita terapêutica que participo).