Se é o seu sonho...

Minha filosofia de vida tem sido: Se é o seu sonho, eu não vou me interpor a ele, ao contrário, vou fazer tudo para você consegui-lo. Tem sido minha diretriz básica desde que sai da minha primeira internação em clínica psiquiátrica e se refere tanto a outras pessoas quanto a mim mesmo.

Foi assim quando emprestei minha câmera fotográfica profissional para um amigo que ia viajar para a Argentina. A câmera voltou quebrada e eu não vejo mais o amigo há muito tempo, mas tudo bem. Foi assim quando me dispus a diagramar o zine de um amigo. Não vejo o cara há muito tempo também e nem sei se ele é mais meu amigo, mas tudo bem. Esses dois amigos, são emblemáticos, do que quero dizer, porque conheci os dois num coletivo de estudos anarquistas em Niterói. Eu participava ativamente desse coletivo em meados de 2004. Minha vida aparentemente continuava a mesma, eu tinha acabado de sair da internação na clínica Nossa Senhora das Vitórias em São Gonçalo, onde eu moro, até hoje. Mas, na verdade, grandes mudanças estavam por acontecer e eu sabia disso.

Conheci esse grupo de estudos anarquistas na internet e fui logo me dirigindo à UFF (Universidade Federal Fluminense) de Niterói onde eles se reuniam. Eu estava decido a dar um rumo diferente à minha vida e foi o que consegui. Consegui uma namorada, coisa que não tinha conseguido a minha vida inteira, até os 24 anos de idade. Namoramos durante dois anos, foi muito bom, mas acabou o namoro de um jeito estranho. Ela engravidou de um outro cara (ela estava me traindo), um maconheiro da cidade dela. Eu só fui saber que ela tinha tido o filho, um ano depois por telefone. Até hoje, só nos falamos por telefone ou internet, quando nos falamos, atualmente, nem isso.

Conto tudo isso porque foi a partir daquele coletivo anarquista que eu me tornei, também, neossanyasin do OSHO. Consegui um novo nome, Divyam Anuragi, que quer dizer amor divino. Foi a partir daí que minha vida mudou mesmo. Minhas atividades foram diversificadas, eu passei a vender livros anarquistas com uma banca improvisada (depois comprei uma profissional) numa beira de entrada da UFF. Passava muita gente por lá, entre estudantes, professores e servidores da universidade e eu vendia todo dia. O tempo passou e eu comecei a vender os livros em eventos a partir da editora Achiamé.

Minha concepção de mundo foi significativamente alterada quando eu me tornei sanyassin. Eu passei a ver a vida de um modo mais imaginativo e, ao mesmo tempo, inteiro, todo na realidade, por assim dizer. Um sanyassin é um devoto que no caso do guru OSHO, não tem obrigações maiores do que simplesmente meditar. Não somos retirados do mundo nem nada disso. O anseio todo é estar no mundo sem ser do mundo. As meditações tem música e geralmente tem dança e um chacoalhar do corpo ou movimentos expansivos. As meditações relaxam muito e eu medito frequentemente.

Eu passei a escrever em 2003 ou 2004, logo depois da internação. Eu queria apresentar a uma editora, um projeto de livro, completo, com o texto e com as ilustrações que eu faria. Eu sou desenhista e formado como Bacharel em programação visual pela UFRJ. Quando eu me formei, isso em 1999, fui convidado por um amigo para participar de um grupo dentro da igreja católica, chamado Sociedade São Vicente de Paulo. A Sociedade se reúne em conferências e presta assistência em alimentos e espiritual à famílias. As famílias podem ser católicas ou não, não importa. O que importa é ajudar. Eu passei uns dois a três anos participando. Depois me desliguei da igreja, que eu nunca tinha sido ligado, realmente.

Minha religiosidade, minha espiritualidade é e sempre foi, francamente, panteísta. Perguntado sobre o que significava a amizade para mim por um amigo (amigo do peito, desses que só se tem um na vida), eu disse: Você é tão importante para mim, quanto aquela pedra logo ali. Todo o universo é importante para mim.

Hoje eu faço tradução de um livro em inglês chamado Pantheism and Christianity de John Hunt, livro de 1884 sobre diversas correntes filosóficas e religiosas a respeito do Panteísmo e como ele se relaciona com a cristandade. Coloco essas traduções em um site que atualizo constantemente e planejo escrever um livro com essa tradução (já que o texto caiu em domínio público) e com colagens que eu faria para ilustrá-lo. Aliás, eu já escrevi 9 livros e os publiquei sob demanda no Clube de Autores, um site para publicação gratuita.

Apesar desse pensamento panteísta, eu faço orações católicas e rezo o terço quase diariamente. Faço oração centrante e já fiz lectio divina com a bíblia algumas vezes. Eu uso as orações como uma catarse, já que não tenho dinheiro para viajar nem para passear muito.

Também tenho feito uma recitação budista atualmente, que encontrei a partir da amizade com uma moça pela internet. A recitação budista é a mesma que a minha ex-namorada fazia quando tínhamos um relacionamento.

Não posso dizer que tenho relações amorosas muito frequentes. Na verdade, não tenho nenhuma, ultimamente. E não vejo perspectiva disso mudar, já que eu não tenho dinheiro para sair (estou desempregado) e só tenho amizades pela internet. Perdi contato com todos os meus amigos anarquistas e do OSHO, além dos amigos do antigo colégio Alcântara, os “nerds” como nós nos chamávamos. Éramos um grupo de amigos bem unidos no colégio. Hoje, minhas amizades se resumem ao facebook, na internet.

Eu sou acompanhado mensalmente por consultas psiquiátricas e psicológicas na Tijuca e em Botafogo, onde eu tenho que fazer uma viagem de 2 horas de ônibus para chegar no local de atendimento. Também venho recebendo gratuitamente remédios psiquiátricos pelo SUS na Rio Farme. Essas são as minhas únicas saídas de casa, ultimamente, nas quais eu aproveito para passear um pouco, depois das consultas e de pegar os remédios.

O que mais me deixa feliz hoje em dia é pintar as minhas telas. Sinto-me bem em colocar a criatividade para fora, fazendo o que eu chamo de pinturas com pseudo-carimbos. Eu uso tacos de madeira e pedras como carimbos na tinta guache e os “imprimo” diretamente na tela, tendo um efeito bem diferente num expressionismo abstrato.

Gosto de ouvir música clássica na rádio MEC FM e Rock numa outra rádio. Gosto de visitar as exposições de artes plásticas nos centros culturais pelo Rio de Janeiro. Leio livros de ficção e de poesia.

Escrevo poesia quase diariamente e escrevo um romance a partir do site Desafios dos escritores do Núcleo de Literatura da Câmara dos Deputados de Brasília.

Em suma, estou nesse processo de criação artística-literária e vivendo minha vida da melhor maneira que eu posso. Resolvi seguir meus sonhos, afinal, se esse é o seu/meu sonho vou fazer tudo para você/eu consegui-lo.

(Carta dirigida à oficina de escrita terapêutica que participo)

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)
Enviado por Mauricio Duarte (Divyam Anuragi) em 25/05/2013
Código do texto: T4309099
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