Epístola 01
Epístola. 01
Para minha mãe!
A sua benção minha mãe? Fiz boa viagem, e ao chegar na rodoviária em São Paulo, tio Faleg já estava esperando por mim; fiquei muito assustado mãe quando cheguei aqui; era gente pra todo lado, um corre-corre danado em meio a um nevoeiro e muito frio. O nevoeiro trazia uma chuva fina e muito fria; e o pior mãe é que eu não tenho nenhum agasalho, pelo visto aqui eu vou sofrer um pouco. Ainda bem que hoje é sábado e meu tio não estava trabalhando; da rodoviária fomos direto para a casa dele, não muito longe dali.
Mãe eu nunca vi tanto apertuche; a casa é pequena demais, eu nem sei aonde vou dormir, visto que só tem uma cama e muita gente dentro da casa.
Meu tio com a sua esposa tia Valdina e a filhinha deles Mavione que estava em um pequeno berço num cantinho do quarto, Isabel a irmã de tia Valdina também mora com eles; a casa tem apenas dois cômodos, um quarto e uma cozinha, e o banheiro é do lado de fora da casa coletivo a todos os moradores. No quarto uma cama de casal, um berço e um pequeno guarda-roupa; a cozinha mãe, tem pouco mais de um metro de largura onde se acomoda precariamente uma cristaleira, um fogão e uma pequena mesa; não tem quintal, apenas um estreito corredor com algumas dessas pequenas moradas, e nelas outras famílias morando. Sabe mãe, vai ser difícil eu me acostumar por aqui. Só à noite é que fui ver como é que se dorme na casa que meu tio morava; Isabel, a irmã de tia Dina dorme num pequeno colchonete aos pés da cama do casal, e eu fui dormir embaixo da mesa na cozinha. No mais, tudo estaria bem não fosse a saudade que estou sentindo de todos vocês; vou tentar me acostumar aqui no meu retiro. A sua benção minha mãe, a sua benção meu pai; dê um abraço nos meninos.
Do seu filho querido,
Miguel.
São Paulo, 10 de fevereiro de 1965.