Obcecar

Eu tinha a esperança guardada em mim, mas cada dia que se passava ela ia morrendo e em seu lugar, um sentimento de perda se misturando ao ódio. Ódio que corroia as minhas entranhas e se espalhava devagar, tocava meus dedos... Eu tentava engoli-lo antes que subisse por minha garganta se transformando em choro, se transformando em sangue. Ela estava lá, e eu queria saber sobre seus pensamentos, queria investigar cada um de seus sonhos, se ela desejava outro. Meus pensamentos sucumbiam em auto piedade, uma dor lacerante florescia em meu peito, meu coração bombeava algo venenoso... Caí de joelhos. Eu não conseguia pertencer a lugar nenhum, era como um verme rastejando e lutando por sua vida e mil gaviões a sua volta, sabia que não tinha saída, esperava pelo abate. Eles se beijavam. Eles se abraçavam. Ele a tinha em suas mãos. Ela o tinha em seu peito. Nós nunca seríamos eles. Novamente o beijo volta em meus sonhos, o seu cheiro invade meu olfato. Ela era minha. Mesmo que nós não pudéssemos ser eles, ela era minha e se eu não a tivesse, ninguém poderia ter mais. Minha alma morria todos os dias com as mesmas ideias, mas o corpo vivia sob pena de dor. Ela ainda sorria para mim, com certa pena em sua expressão, e era só... Nem uma faísca de desejo sequer... Como se por um momento ela me levasse para um lugar alto e me mostrasse onde eu queria estar e me deixa cair de repente. A carne é mole, bate sobre o chão e se estilhaça como vidro. Ela colecionava meus pedaços, aos poucos não restara nenhum em meu peito. Tanto vazio culminara em tanto ódio. Eu poderia sufocá-la com minhas próprias mãos, eu poderia roubá-la eternamente para mim, um corpo sem vida, mas ainda sim... Quem mais poderia desejá-la sem vida se não eu. Eu poderia amar-te mesmo que teus olhos não brilhassem mais, minha querida. Eu poderia te proteger da tua própria vida, guardando sua morte em minhas mãos e após isso, após ver seu sangue verter e não te restar mais nenhuma vida que não possa ser minha, eu morreria ao teu lado.