CARTA DE UM FANTASMA

Na manhã de 17 de maio de 2013

Tudo inútil. Inúteis todas as minhas tentativas para ser compreendida e realmente aceita, inúteis as minhas tentativas para ver re-conhecida a verdade do meu sentimento ao longo de tantos anos de espera e de provações. Eu só queria ver reconhecida a verdade do meu sentimento que, afinal, que mais me há a desejar para além disso?

Eu, vista como uma farsante; isso: uma farsante. Tenho que partir, urja que eu parta apenas com essa palavra do teu julgamento final: Uma farsante. É isso o que pensas, de verdade, a meu respeito, por trás dos véus-palavras que te escondem.

A minha vida, Amigo, não tem significados. Não sei de mim, sei dos infinitos anos que me couberam, e da jornada incompreensível por este mundo, jornada incompreensível por todos os lados. Judeia errante de mim mesma, ainda que presa dentro dos muros de solitária onde comungo o possível do que restou de mim com o ser que me trouxe para tal mundo, pobre dela, a viver com este simulacro de tudo que, segundo o que julgas e quiçá, outros mais, também, seja o ser aqui presente (?)

Preciso partir, preciso mesmo. Partir, ferida até a medula da alma, com a sensação, neste momento, de que sou um fantasma de alguém que, talvez, tenha existido algum dia. Um dia, alguém que tenha sido o que hoje este"eu", fantasma daquele alguém que talvez tenha sido. Um fantasma que terá que lutar para manter alguma linguagem. Alguma linguagem, sabe-se lá a dizer o quê.

Das infinitas coisas a dizer, não há nada que eu possa ou deva. Nenhum direito a nada, só a ficar aqui, ilhada de tudo, ilhada em mim: fantasma estrangeiro. Um fantasma estrangeiro a falar língua ignota. Uma língua ignota. Para sempre. A dizer sabe-se lá o quê.

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P.S. Aos amigos do Recanto:

Esta escrita, apenas carta encontrada em uma gaveta, preâmbulo de romance que não foi escrito. Tenham um lindo fim de semana, queridos.