AO MENINO LOBO
Mogli,
Já dizia Renato que todo mundo é parecido quando sente dor, deve ser isso... Deve ser a dor que faz com que eu acabe em você, independente do caminho que eu percorrer. Teus olhos, se lidos e relidos com certa atenção, deixam pistas valiosas de que acabou, não há escolha, você vai estar no fim de todos os percurssos, de todas as escolhas. Você me pega pela mão e me faz ficar quando eu já estou indo embora. Está ficando tão tarde... Tarde, quase noite. E quando escurece, os caminhos ficam demasiadamente perigosos para que uma dama volte só, para casa. Talvez, mas só talvez, eu devesse ficar. E talvez, eu já não conheça o caminho de volta, posto que não faço a mínima ideia de como cheguei até aqui. Mas cheguei. Minhas contradições ataram meus punhos, minha fraqueza amordaçou meus argumentos, e a tua, apenas a tua loucura, me concedeu algumas gotículas de pudor e sanidade. O poeta que retorna do inferno, e vem com as chaves, as causas, os dramas, a lama. O homem que tem olhos de menino... Menino marcado, metido a moderno. Me engana não. Tem alma cravada ali pelo século XIX, com toda a febre, o delírio e quiçá a volúpia daqueles amores. A exceção está no âmago, ''nascido a cada momento para a eterna novidade do mundo'', prestes a ultrapassar todo e qualquer limite que for imposto. Paradoxal, ou... nem tanto. Não cabe em definições de menininhas malucas, nem de mulheres tão antiquadas quanto ele, não cabe nas regras de escola alguma, não cabe no meio de nada. Transborda. Não satisfeito em ser repleto, preenche a mim. A mim que já estava tão acostumada a ser vazia. E talvez, mas só talvez, eu goste de seres antiquados e transbordantes.