AO MEU CASMURRO

Bem, eu não devia te escrever agora, agora... Depois de tanto tempo em que deveria ter escrito e não o fiz. Mas faço agora. E o faço porque sinto a vontade de te puxar pela mão, outra vez, mesmo que agora você não permita. Não estou aqui para dizer coisas bonitnhas que te façam voltar pra mim, eu nem quero que volte pra mim, e nem quero ser rídicula a ponto de te pedir isso outra vez. Eu só queria te contar, que eu fui lá fora e vi dois sóis num dia e a vida que ardia sem explicação. E dizer também que o seu telefone irá tocar, em sua nova casa que abriga agora a trilha incluída nessa minha conversão. As coisas andam com um brilho puro e simples, exceto quando carregam teu nome. Não dói, quando eu não fuço. Não dói, quando ninguém olha a ferida por tempo demais. Mas isso não importa. O que importa é que me falam de você, me deixam saber, felizmente, dos teus dias, já que tua boca não me conta detalhe algum. Disseram que anda sempre rindo, feliz, de amizades íntimas com as mesmas menininhas de antes e eu sinto a fria sensação de Deja vu tomar meu corpo. Você tem razão, a liberdade é doce, também a tenho provado, mas seja prudente, por Deus, não te jogues ao vento. Ouvi da boca de gente próxima, próxima de mim e de você a seguinte frase: ''Agora vejo toda a firmeza dele, escorrer por entre os sorrisos que ele distribui a qualquer um.'' Desculpa estar dizendo essas coisas, desculpa estar me metendo, mas como é que posso levar minha vida sabendo que tem se dedicado a coisas que te fazem bem, por hora, mas deixam tua essência ao léu? O que foi feito da tua alma? Sei que se sente bem, se sente livre, mas me pergunto se essa sensação não se deve ao fato de que não tem tempo para ficar sozinho. Quando olha para dentro, o que vê? É engraçado, porque eu sei que não fui o que se pode chamar de porto seguro, sei que não dei respaldo ao teu sonho, mas independente de mim, saiba que a vida merece um planejamento, que a solidão não pode ser sanada em risos, bocas e corpos quaisquer, porque as pessoas vão embora, e mais cedo ou mais tare, você estará só outra vez e será forçado a encarar o espelho. Você não tem medo? Em fim, só estou dizendo todas essas coisas porque talvez eu saiba como se sente e talvez eu ainda me sinta da mesma forma. Tua mudança me fez mudar também, me fez estar disposta a fazer realmente companhia para alguém, a estar com algguém pelo simples fato de estar, a fazer planos. Lembra de quando fazíamos planos? Ainda acho que eles valem. A vida é como uma colcha de retalhos (e talvez você lembre que já usei está metáfora antes), retalhos bonitos que vão se somando, mas os pontos para unir os detalhes, nem sempre são fáceis. Falta linha, falta afeto, falta força pra segurar um lado da colcha quando o outro está pesado e se os dois pesam... A colcha se desfaz. Me pergunto em que dimensão de sonhos perdidos e não realizados, se encontram nesse instante, nossos pequenos, Alice e Vitor. Me pergunto, para onde é que foram nossos olhares. E agora... Nossas bocas buscam outras, outras que não viram a mesma história, outras que não esperaram tanto tempo pela felicidade, outras que... Que não carregam tantos sonhos dissipados. Me dói. Não saber que está em outros braços, não saber que sorri longe de mim, não saber da tua legria, mas me dói não saber se essa euforia toda é profunda e real, ou apenas a ausência da solidão que foi tomando seus dias, quando eu, tola, em crise, desesperada com um mundo novo, te deixei sozinho, por tanto tempo que você se acostumou sem mim. A verdade é que agora eu sei, fim da crise, tudo no lugar, as coisas caminham bem, não me sinto só e tenho sorrido muito, mas os meus sonhos, aqueles antigos, de uma casa pequena e arrumadinha, ainda carregam teu nome. Se eu permitir, sei que isso passa, a dor que quase não sinto, os planos, a sensação de tempo perdido, tudo isso passa se eu permitir, mas eu sinceramente não quero que passe. Porque como eu já disse milhões de vezes, é muita história para permitir que se acabe assim. Acho que já disse outras vezes que o problema dos relacionamentos atuais, é que tudo se torna descartável, as crises rompem os laços, enquanto deveriam apertá-los. Será que os casais que vivem juntos há 20 anos, nunca sentiram o amor morrer? Eu já senti. Já tive vontade de virar as costas e ir viver todas as coisas que um namoro me privava, mas eu não fui. Não fui porque havia feito promessas e não as pretendia quebrar, não fui porque selei com o corpo, um pacto de alma, não fui porque de alguma forma eu queria que minha realidade fosse você. Mas não foi. Nem sei se você leu até aqui. Mas eu precisava dizer essas coisas, precisava tentar te segurar pela mão ao ver que talvez, isso que está fazendo seja o que eu quase fiz... E você não permitiu. Meus olhos estão abertos, minha mente está aberta, as coisas mudaram. Deixei de lado grande parte do meu orgulho, do meu amor próprio, peguei-me definindo a mim mesma como algo tão pequeno que para nada serve a não ser servir. Bem, quero com esse escrito deixar claro que estarei aqui por algum tempo ainda, estarei te amando possivelmente para a vida toda, como prometi. Espero que não caia. Estou te vendo percorrer todos os cantos em busca de si mesmo, espero que tenha sucesso em tua busca e quando encontrar... Talvez haja um espaço para mim em tua imensidão de ser. Só tenha cuidado para não perder-se ainda mais, em companhias fugazes, fugazes... Não é uma crítica, nem um apelo, só estou tentando de puxar pela mão e te pedir pra ficar. Outra vez. Desculpa.

Efêmera Capitu
Enviado por Efêmera Capitu em 02/05/2013
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