carta de um suicida

Você pode me achar dramático e até um pouco pessimista, com muito pouca auto-estima, mas o que vou lhe contar é a mais pura verdade. Sabe aqueles dias ruins que você ouve nas músicas? E tem até uma nova do NX0 que fala disso, eu não tenho dias ruins, eu tenho tido anos ruins, seguidamente. Na verdade eu escrevo isto na esperança de que alguém leia e me interpele a respeito e assim eu possa desabafar. Na verdade eu só quero um pouco de atenção, um pouco de atenção me faria muito bem. Sou um cara bom, ruins são as minhas vidas. Hoje me sinto como o nada, como o vazio do vento, como a poeira na estrada que, ao ser tocada por seu veloz explorador e dependente, se revolta, se cresce e avança contra o primeiro que a possa aspirar. Assim me sinto. Hoje sou tão importante quanto as palavras de um andante, de um mendigo à porta de um Banco na Av. Paulista que, com palavras de dor, se expressa com gestos mudos e incoerentes, incoesos e sem vida aparente. Odeio ser visto como algo que só representa uma pequena parede ambulante, impedindo que vejam através de mim. Se estas palavras, a seu ver, são, como eu falei, dramáticas, é porque você não é um sonhador como eu que prefere cessar a respiração a continuar vivendo como vive. Por favor, pare de ler agora este texto se você não me acha verdadeiro. Vá ler um livro, assistir a uma novela, ajudar sua mulher na cozinha, etc. Deus na sua absoluta maldade continua me dando uma dose diária de veneno que tem me feito muito mal. Eu peço: Por favor, pára com isso, mas ele é implacável e frio para comigo. Então eu vou pedir aqui na frente de vocês pra ver se ele me atende (como nos programas de TV, rádio, com políticos, para testar sua vaidade) hoje ainda:

- Por favor, Deus, tome de volta a minha vida e dê a outro que o senhor esteja disposto a ajudar. Eu não a quero e se pudesse tocá-la, pega-la, eu a quebraria em moléculas e a jogaria longe, bem longe de mim. Cairia com o meu corpo onde estivesse e fecharia os meus olhos pretos, que valem, no mercado publicitário, menos que esta folha na qual escrevo.

A vida é um “show” e nela eu só quero um papel: o de artista, embora ela própria me atribua vários papéis. Sou um cinegrafista amador, sou um câmera que, sem perceber, acaba notando, ouvindo e vendo o que não deveria. O que eu vi que não deveria ver meu caro leitor? Eu vi, eu ouvi, eu senti, eu falei, eu aplaudi, eu chorei. Tudo isso como um mero cinegrafista, neste mundo em que as pessoas são apenas peças que compunham uma gigantesca escada para que alguns filhos de ‘deus’ se erijam rumo aos seus nojentos e fedorentos, vulgares e podres desejos. Rico não tem objetivo, não tem sonhos, não tem ideal, essas palavras foram criadas para nós da classe menos assistida pelos “anjos” que trazem a riqueza para esta terra. Rico tem, como eu já disse, algo nojento, abominável, um desejo de sempre ter mais, por muito menos. Uma ânsia, cruel e avassaladora, destruidora de fim de semana...

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Adriano Paulo
Enviado por Adriano Paulo em 29/04/2013
Código do texto: T4265334
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